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COIL - UMBC e UNESP Marília: Uma parceria internacional, intercultural e interdisciplinar

Greiciele Ferreira | 06/11/2022 18:58 | Artigos
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Na última quinta-feira, 27 de outubro, os alunos da UNESP, campus de Marília - SP, tiveram a grande oportunidade de participar de um collaborative online international learning (COIL) com os alunos de graduação da University of Maryland, Baltimore County. O COIL é uma atividade que consiste no ensino e aprendizagem online; modalidade de ensino criada em 2006 pelo professor Jon Rubin na The State University of New York (SUNY), tendo como objetivo o contato e a parceria entre professores e alunos em disciplinas curriculares com conteúdo similar na graduação ou pós-graduação, além de promover um ambiente intercultural, com muitas vezes dois ou mais idiomas envolvidos.

A atividade que envolveu os alunos de Relações Internacionais da Unesp de Marília e os seus colegas de Baltimor, foi proporcionada pelo professor Felipe Filomeno, que leciona a disciplina Política Latino-Americana na Universidade de Maryland, e contou com o apoio do Marcos Cordeiro Pires, que leciona Economia Política Internacional e é o coordenador do Observatory Latino, em conjunto com a Prof. Dra. Thaís Caroline Lacerda. Na ocasião, os alunos de ambas as universidades trocaram experiências e estabeleceram um tipo de conexão muito importante para suas formações, por meio do contato com diferentes etnias e distintas culturas. 

No decorrer do planejamento, o Prof. Felipe Filomeno solicitou que aos alunos assistissem ao filme La Llorona (2019), dirigido por Jayro Bustamante. O filme se baseia numa antiga lenda pré-hispânica e que foi adaptada ao contexto social da Guatemala no século XX. Ele retrata o julgamento do general Enrique Monteverde, uma versão fictícia do verdadeiro general Efraín Ríos Montt, julgado pelo genocídio de indígenas maias-ixiles durante a guerra civil guatemalteca que perdurou entre os anos de 1954 e 1996. Além do julgamento, o filme mostra como as “feridas” de um massacre assim não se curam, já que os expectadores são guiados pelo enredo de Bustamante ao ver a maneira como o general é assombrado por seus atos passados. No longa, essa assombração vem por meio de Alma, a nova empregada na casa do general, que incorpora um espírito que busca de vingança pelas atrocidades cometidas pelo exército sob as ordens do general Monteverde durante a guerra civil. É importante destacar que ele foi condenado por um tribunal, mas que ficou após a anulação da sentença. 

Durante a atividade on line, os alunos foram divididos em grupos de 6 pessoas. O professor Felipe organizou a divisão de tal forma que ao menos um aluno brasileiro participasse de cada um, e assim pudesse compartilhar suas próprias experiências envolvendo nosso país com o que foi analisado do filme. No meu grupo em particular, éramos eu, brasileira, uma aluna mexicana, um aluno nascido no México que mora desde criança nos EUA e mais três alunos norte-americanos. Desde o início, foi interessante analisar o ponto de vista de cada um de acordo com seu país, já que vários pontos abordados no filme são coisas que vividamente experienciamos no Brasil de hoje. 

Um dos pontos mais fortes do filme, amplamente debatido nos grupos, foi o fato de que, em uma tentativa de não serem levados à condenação, os homens se serviram de discursos que tinham por objetivo diminuir as mulheres que ali testemunharam, desacreditando suas experiências em favor próprio. Também fomos levados a discutir acerca de temas como a questão indígena, as relações de gênero e como elas afetaram os personagens no decorrer do filme e, também, quais escolhas criativas foram utilizadas pelo diretor para passar suas ideias e mensagens ao público. 

Ficou muito evidenciado no filme a divisão entre os brancos e os indígenas nas relações em geral, principalmente no fato de que na casa do próprio general, todos os empregados são indígenas, em contraste com todos os membros da família e amigos que os visitam, brancos; assim como no julgamento há essa separação: de um lado, todos os denunciantes e testemunhas são indígenas, enquanto os réus e seus advogados são todos brancos. 

Ainda no debate, o Prof. Filomeno nos estimulou a discutir acerca do que poderíamos fazer ou dizer diferentemente após a análise do filme e como poderíamos agir para mudar esta realidade. Creio que, para mim, foi importante refletir sobre como que as ações tomadas em períodos de instabilidade e guerra podem levar a adversidades de longo termo, com traumas profundos deixado na vida das pessoas afetadas pelas atrocidades de uma ditadura, e sobre quais seriam os meios para sanar as feridas abertas. Nesse aspecto, podemos nos remeter às Comissões da Verdade, que buscam esclarecer à população em geral os inúmeros arbítrios cometidos por governos de exceção. 

No caso do filme La Llorona, a justiça para Alma se fez com a morte do general. Mas o tema fica em aberto, pois em muitas sociedades latino-americanas a justiça e a verdade ainda precisam vir à tona, como no caso o Brasil. Diferente do que é dito por uma das personagens do filme, não creio que o que está no passado deva permanecer ali, pois penso que aquilo que está no passado existe para nos guiar a um futuro diferente e, esperançosamente, melhor. 

Esperamos que no futuro possamos organizar outras COIL com os colegas de Baltimore. Desde já agradecemos o Prof. Felipe Filomeno por nos proporcionar esta rica oportunidade.

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