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A nova administração Trump e seus reveses em relação à saúde: como isso se relaciona aos imigrantes?

Letícia Escorcio / Mayara Metodio Frota | 22/04/2025 19:00 | Análises
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Desde o início do mandato de Donald Trump foram executadas diversas medidas anti-imigratórias, principalmente na região da fronteira entre México e Estados Unidos. Isto posto, no último mês, o presidente tentou justificar seus planos de fechar a fronteira utilizando “emergência à saúde pública” – ou seja, por meio da propagação das doenças de sarampo e tuberculose. Essa atitude remete ao advento da pandemia de Covid-19, em que Trump invocou medidas (chamadas “Título 42”) que permitiam a expulsão de migrantes sob argumentos sanitários, às quais o governo busca retomar.


Trump e seus conselheiros não possuem em mãos um surto de saúde pública para justificar suas ações, mas isso não os impede de buscar incessantemente a doença certa para compactuar com suas intenções. Também tem sido argumentado por eles que os migrantes na fronteira estão passíveis de carregar doenças desconhecidas, o que reforça o teor xenofóbico da essência da atual gestão mascarado de tentativa de proteção à nação.


Voltando-nos mais especificamente para as atitudes de Donald Trump frente ao pilar da saúde nos Estados Unidos, identifica-se que um dos primeiros feitos de seu segundo mandato foi retirar os o país da Organização Mundial da Saúde (OMS), alegando, de um lado, que a organização favorecia a China e não se alinhava verdadeiramente aos interesses estadunidenses, e, de outro, que até hoje se observam consequências da uma má gestão organizacional ao longo da pandemia do COVID-19 e durante outras crises sanitárias globais. Essa decisão gerou preocupações sobre a capacidade do país em enfrentar crises de saúde pública e afetou programas de saúde globais que se apresentavam essencialmente “dependentes” do país – especialmente aqueles voltados para populações vulneráveis, como a de imigrantes.


Contrariando o que reivindica o Título 42 – que foca na expulsão de imigrantes por justificativa de ameaças por doenças –, no último mês o atual presidente demitiu centenas de inspetores de saúde nas fronteiras dos Estados Unidos, justificando que seus serviços não eram mais necessários. Esses funcionários, porém, são responsáveis por investigar passageiros doentes, examinar animais em busca de patógenos perigosos e inspecionar plantas em busca de infestações. A administração governamental dos Estados Unidos anunciou cortes significativos no Departamento de Saúde e Serviços Humanos (HHS), resultando na eliminação de 10.000 empregos inicialmente, com a meta de alcançar uma redução total de 20.000 postos. Esses cortes afetaram agências essenciais como a FDA, os CDC e os Institutos Nacionais de Saúde, comprometendo a prestação de serviços de saúde, especialmente para comunidades carentes e imigrantes. Em outras palavras, remover esses agentes das fronteiras torna a população vulnerável e suscetível a doenças. Algo relacionado foi a demissão “acidental”, também no último mês, de agentes responsáveis por conter a gripe aviária pelo Departamento de Agricultura dos EUA – apesar de haver agora uma tentativa de reverter a decisão e realizar a recontratação desses profissionais. Também é importante expor o corte de verba realizado em relação à próxima geração de cientistas e líderes de saúde pública, além da diminuição no financiamento a ONGs que, por justificativa, “prejudicam” o interesse nacional e as prioridades da administração.


Verifica-se com os dados disponíveis que no ano de 2024, que os EUA contribuíram com 2,4 bilhões de dólares à Saúde Global sendo 19% da verba do país voltada à saúde. Isso torna ainda mais claro como sua saída da OMS pode provocar consequências em diferentes magnitudes.


          Visando entender de que modo as ações do governo Trump afetam ambos acesso e aproveitamento da saúde por parte dos imigrantes, entende-se que as medidas de deportação em massa adotadas aumentaram o medo entre os imigrantes, levando muitos a evitarem buscar serviços médicos por receio de serem detidos ou deportados. A revogação da política que protegia hospitais como "locais sensíveis" de ações do Serviço de Imigração e Controle de Aduanas dos Estados Unidos (ICE) intensificou essa preocupação. No Texas, por exemplo, os hospitais passaram a coletar e reportar informações sobre os custos de atendimento a imigrantes sem status legal, exacerbando o clima de medo e dificultando o acesso a cuidados médicos essenciais.


Um outro aspecto deste tema que é importante mencionar, é a questão da perseguição às identidades de gênero e a rigidez em relação à saúde reprodutiva. A administração Trump propôs remover o reconhecimento da identidade de gênero em documentos oficiais e em políticas de saúde, o que afetaria diretamente o acesso de pessoas trans a cuidados médicos – incluindo tratamentos hormonais, cirurgias de transição de gênero e até mesmo atendimentos médicos básicos sem discriminação ou violência. A imposição de uma definição estrita de sexo biológico também ultrapassa as questões práticas de atendimento médico e enfraquece a saúde populacional em nível psicológico e comportamental, uma vez que aumenta os riscos de depressão e suicídio entre pessoas trans e não binárias.


Ademais, em relação à questão reprodutiva, o medo crescente entre imigrantes em estados como o Texas levou muitas mulheres indocumentadas a evitarem buscar cuidados de saúde sexual, incluindo anticoncepcionais e exames médicos essenciais. Políticas migratórias rígidas e leis estaduais restritivas contribuíram para essa situação, resultando em consequências trágicas já observadas, como mortes provocadas pela falta de atendimento médico adequado.


          Frente às questões aqui apresentadas, não é ingênuo afirmar que as políticas de saúde da atual administração de Donald Trump não apenas se restringem e atingem a imigração, mas também fragilizam o sistema de saúde estadunidense como um todo, prejudicando não apenas (apesar de em potencial magnitude) os grupos minoritários, mas toda a população. Ao priorizar medidas punitivas em detrimento de soluções eficazes, o governo coloca em risco tanto os direitos humanos quanto a segurança sanitária nacional.

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