O ex-presidente Donald Trump voltou a defender publicamente sua proposta de acelerar deportações em massa, mesmo que isso implique renunciar a garantias constitucionais básicas. Em entrevista ao programa Meet the Press, da NBC News, ele questionou se imigrantes teriam direito ao devido processo legal garantido pela Constituição dos Estados Unidos, deixando em aberto sua disposição para contornar o que considera obstáculos judiciais à sua política migratória.
A declaração de Trump ocorre em meio a sua tentativa de cumprir a promessa de realizar a maior operação de deportação da história americana. Para viabilizar tal meta, seu governo tem pressionado os tribunais a permitirem remoções imediatas, inclusive de supostos membros da gangue venezuelana “Tren de Aragua”, sem a possibilidade de defesa perante um juiz. Embora a Suprema Corte já tenha reafirmado o direito ao devido processo mesmo para não cidadãos, Trump sugere que tais garantias poderiam atrasar sua agenda, mencionando a necessidade de “milhões de julgamentos” para lidar com o volume de imigrantes a serem expulsos.
Durante a entrevista, Trump recorreu repetidamente ao argumento de que está agindo sob orientação de seus advogados, evitando comprometer-se diretamente com os limites legais de suas ações. A postura contrasta com a posição do Secretário de Estado Marco Rubio, que havia declarado que todos os indivíduos em solo americano têm direito ao devido processo legal. Questionado sobre a Constituição, Trump respondeu com ambiguidade: “Não sei”, reafirmando que confia em seus advogados para interpretar a lei.
O governo Trump também buscou explorar brechas legais para agilizar deportações, incluindo o uso inédito da Lei de Inimigos Estrangeiros, de 1798, historicamente aplicada apenas em tempos de guerra. Essa estratégia, porém, enfrenta resistência nos tribunais. Em uma decisão emblemática, a Suprema Corte bloqueou a deportação sumária de homens acusados de pertencer à “Tren de Aragua”, exigindo que eles tivessem a chance de contestar as alegações.
Outro caso que expôs as falhas do sistema ocorreu com Kilmar Abrego Garcia, salvadorenho residente em Maryland, deportado sob a acusação de pertencer à gangue MS-13, apesar de uma ordem judicial contrária. A Suprema Corte ordenou seu retorno aos Estados Unidos, mas o governo afirmou não ter meios de obrigar El Salvador a aceitar o repatriamento. Trump, questionado sobre o caso, desviou a responsabilidade para a procuradora-geral, declarando que cabe ao Departamento de Justiça resolver a situação.
A entrevista também abordou o impacto da política migratória sobre cidadãos e residentes legais, após denúncias de detenções equivocadas durante sua gestão. Trump minimizou os riscos, negando a necessidade de que residentes legais carreguem documentação de imigração, e redirecionou o debate para os crimes cometidos por imigrantes.
Além da imigração, Trump aproveitou a conversa para comentar sua ameaça de retirar o status de isenção fiscal da Universidade Harvard, acusando a instituição de não combater o antissemitismo. Embora a lei federal proíba o presidente de instruir o IRS a agir politicamente, Trump garantiu estar amparado por seus advogados e disposto a levar a questão aos tribunais.
A entrevista expôs mais uma vez a disposição de Trump em testar os limites institucionais, afirmando que age dentro da lei enquanto pressiona interpretações que ampliem seus poderes executivos. Suas declarações reforçam o embate entre o desejo de implementar rapidamente sua agenda política e os mecanismos jurídicos criados para garantir direitos fundamentais.