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O ELEITORADO DO ARIZONA: ENTRE AS DISPUTAS POLÍTICAS E IDEOLÓGICAS

Felipe Sodré Fabri / Mayara Metodio Frota | 15/11/2023 14:57 | Análises
IMG Imagem de vecstock no Freepik

Na eleição presidencial de 2020, o democrata de carreira, Joe Biden, levou os onze votos do colégio eleitoral do Arizona, estado localizado no sul dos Estados Unidos. A disputa travada contra o ex-presidente Donald Trump foi extremamente acirrada, com Biden conquistando 49,4% dos votos e Trump, com 49%. Além desse resultado histórico, o Arizona vem sendo palco de outras mudanças eleitorais importantes, como é o caso da vitória da democrata Katie Hobbs para o governo estadual – cargo que assumiu em janeiro de 2023 – contra a republicana Kari Lake, uma proeminente apoiadorade Trump, e a dupla derrota da republicana Martha McSally, ex-senadora substituta que não conseguiu se eleger em 2018 e2020. Ou seja, o estado antes muito favorável a John McCain e líderes republicanos, agora pode ser considerado um local “roxo”, que não apoia apenas o Partido Republicano (GOP), mas também figuras liberais importantes para o cenário nacional estadunidense? A resposta está nas no cenário de mudanças que o Arizona vem passando nos últimos anos, seja na política, seja na sua demografia.


Mesmo que a eleição de 2020 tenha mostrado a nova força do partido democrata no estado, não é apenas por ela que transformações já poderiam ser notadas. Em 2016, por exemplo, Trump ganhou no estado com 49% dos votos, poucos pontos acima da segunda colocada, Hillary Clinton, que obteve 45,5% do eleitorado. Apesar de os republicanos saírem vitoriosos contra Clinton, era possível notar um maior acirramento na disputa com o avanço dos democratas na corrida presidencial. Importante lembrar que em 2012, Mitt Romney saiu vitorioso com uma vantagem de aproximadamente 10 pontos contra o democrata Barack Obama no estado, sendo que o republicano John McCain, senador admirado por grande parte dos eleitores, teve uma vantagem pouco mais de 8 pontos também contra Obama em 2008.


Outra questão interessante a ser destacada, é que pela primeira vez desde 1952, o Arizona conta com dois senadores não republicanos, o democrata e ex-astronauta Mark Kelly, e a independente Kyrsten Sinema. Além de mostrar uma maior mobilização liberal, essa composição da representação estadual no senado estadunidense denota como a percepção de um “red state” está sumindo, mesmo com uma permanência forte dos republicanos ali. Dessa forma, o eleitorado do Arizona, antes tradicionalmente republicano, passou a abandonar essa plataforma ao longo dos anos, seja nas eleições presidenciais, seja nos pleitos locais, com as propostas dos partidos e, sobretudo, pela via das mudanças demográficas. No entanto, vale ressaltar que essas questões não são historicamente longevas visto que, em outros momentos no passado, foi possível perceber posições políticas diferentes vindas do Arizona, caso da eleição de Bill Clinton em 1996, em que o então presidente ganhou os votos eleitorais deste estado na sua reeleição. 


Acerca dos partidos políticos em questão, o Partido Republicano tem um ideal mais político conservador ou liberal conservador. Possuem ideias como a defesa da propriedade privada, do livre mercado e concorrência e dos direitos individuais. Defendem o estado “mínimo” e que as leis do mercado e livre concorrência regulam a sociedade. Já o partido democrata caracteriza-se por posições progressistas, com alinhamento à esquerda democrática. Defende políticas sociais assistencialistas, intervenção estatal na economia e a responsabilidade comunitária e social. Além disso, compreende a importância do papel mais ativo do governo nas questões econômicas com as regulamentações do mercado, almejando a melhoria da qualidade de vida da população.


Nota-se que o Arizona é conhecido por ser um estado republicano, com Joe Biden sendo o segundo presidente democrata a ganhar nesse local.  Assim, precisamos entender o porquê de isso ter acontecido. Desde já, um importante fator a ser destacado, seria o crescimento da população latina, em que as diversas políticas anti-imigrantistas de Trump podem ter afligido em grande medida essa população. Outro fator importante é a migração de habitantes da Califórnia – predominantemente democrata – para o Arizona, que levaram consigo seus ideais progressistas para o estado. Segundo a artigo publicado no NewsWeek, cerca de 143.000 moradores da Califórnia se mudaram para o Arizona entre 2021 e 2022. Há diversos motivos que podem complementar a explicação desse fenômeno, como menor custo de vida, maior qualidade da educação, oportunidade de emprego, dentre outros. No ano de 2020, 63,5% da população californiana (cerca de 11 milhões de pessoas) votou em Biden, segundo a CNN. Entende-se que a mencionada onda de migrações também afetou os resultados daquele ano.


A população latina hoje é um terço da população do Arizona, segundo os dados apresentados Census Bureau, o que indica grande influência desse grupo nos resultados das eleições. Segundo essas informações, em 2020, os latinos compunham uma população no estado de aproximadamente 2,2 milhões de pessoas para um total 7,2 milhões de indivíduos no total, algo em torno de 30,6% da população estadual. Para melhor ilustração, em 2010, essa relação era de cerca de 1,8 milhão de latinos e hispânicos em uma população absoluta de aproximadamente 64 milhões, um aumento de quase 22,2% em uma década. Desta forma, perpassando os anos e as administrações na Casa Branca, essa população vivenciou os anos do governo de Trump com suas específicas políticas anti-imigrantes. No entanto, além do radicalismo do ex-presidente, outros eventos geraram revolta e preocupação entre os latinos. Um exemplo seria um projeto de lei feito em 2010, o “Arizona SB 1070”, que pretendia transformar policiais em agentes de imigração no intuito de abordar indivíduos com base em sua etnia.


Devido a todos esses fatores, é notório que as consequências chegariam em 2020. Joe Biden recebeu mais de 60% dos votos latinos no Arizona na última eleição presidencial. Barrett Marson, um estrategista republicano no Arizona, em uma matéria do The Washington Post, afirmou: “se há algo que Donald Trump conseguiu nos últimos anos foi transformar o Arizona de um estado vermelho confiável para um estado roxo.


Considerando esse cenário de polarização e mudanças no eleitorado, é necessário pensar no Arizona para a eleição de 2024 como um local imprevisível, sem um possível candidato vitorioso à vista. Segundo a última pesquisa presidencial divulgada pelo The New York Times, Trump lidera no estado com cinco pontos de vantagem contraBiden, situação que mostra a fragilidade da administração democrata no estado. Contudo, em outros âmbitos eleitorais, como é o caso do Senado, Ruben Gallego, provável candidato democrata para o cargo, vem liderando a disputa com vantagens que ultrapassam os sete pontos, até mesmo considerando uma candidatura independente de KyrstenSinema. Portanto, os candidatos que vão definir a eleição, não são aqueles selecionados pelos seus partidos, mas sim os que serão escolhidos pelo eleitorado, que também apresenta seus próprios interesses. Em algumas pesquisas, Joe Biden lidera por margens minúsculas contra Trump no estado, contudo, se a eleição fosse contra Nikki Haley, a ex-embaixadora ganharia do atual presidente com uma vantagem de nove pontos. Logo, é preciso um olhar cuidadoso acerca do novo “purple state” que se chama Arizona, visto toda a imprevisibilidade e competição que se forma nesse local ao sul dos Estados Unidos. 

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