Rua Hygino Muzy Filho, 737, MARÍLIA - SP contato@latinoobservatory.org
IMG-LOGO
Início / Notícias

Notícias

Eleições 2024: consequências de um segundo mandato de Joe Biden para os latinos

Greiciele da Silva Ferreira | 09/04/2024 21:43 | Análises
IMG Gage Skidmore from Surprise, AZ, United States of America

Desde que Joe Biden assumiu a presidência dos Estados Unidos, em 2021, sua administração sofreu diversas críticas relacionadas ao tema da imigração. Ele também foi protagonista em controvérsias relacionadas ao tópico, principalmente em relação a suas promessas eleitorais não cumpridas e suas dificuldades em lidar com o aumento da imigração no país. Esta análise tem como objetivo demonstrar quais serão as prováveis consequências de um segundo mandato de Joe Biden para os latinos/hispânicos caso ele seja reeleito em novembro de 2024, assim como foi realizada a anterior análise sobre as consequências de um segundo mandato de Donald Trump pelo Latino Observatory há poucas semanas. Para iniciarmos a discussão que trata do futuro, devemos primeiramente visualizar o que foi feito no passado e quais as consequências disso hoje.


De acordo com um relatório do Pew Research Center de janeiro de 2022, a administração Biden agiu em diversas frentes para reverter algumas das restrições anti-imigração estabelecidas durante o governo de Trump, dentre elas: planos de aumento das admissões de refugiados a partir do ano fiscal de 2022, tentativa de “proteção e fortificação” dos chamados “Dreamers” – imigrantes levados para os Estados Unidos enquanto crianças e que fazem parte do programa DACA (Deferred Action for Childhood Arrivals) – depois que um tribunal federal no Texas realizou a tentativa de findar o programa, conforme analisado pelo Latino Observatory ainda em 2022; e também pela não aplicação da regra de “cobrança pública” que nega green cards para imigrantes que podem precisar usar benefícios públicos como o Medicaid. Além disso, Biden removeu algumas restrições, dentre elas a restrição sanitária Title 42, estabelecida no início da pandemia de Coronavírus que reduzia drasticamente a entrada de imigrantes e obtenção de vistos, aumentando uma rápida deportação de imigrantes ilegais que tentassem atravessar a fronteira, e que foi utilizado sistematicamente pelo Governo Trump.


O relatório do Pew Research ainda cita que a maior proposta de Biden para a imigração na época permitiria que novos imigrantes se estabelecessem no país, enquanto daria a milhões de imigrantes não-documentados que já ali se encontrassem, um caminho para legalização de seu status a partir de atualizações no sistema migratório baseado na situação familiar, revisão das regras de imigração de empregos e aumento do número de vistos de diversidade.


O MigrationPolicy Institute publicou um estudo em janeiro de 2024 que informa, entretanto, que a fronteira sul dos EUA presenciou um recorde de ao menos 6,3 milhões de encontros com imigrantes desde que Biden assumiu a presidência, de acordo com dados do Escritório de Estatísticas de Segurança Interna (Office of Homeland Security Statistics), resultando na entrada de mais de 2,4 milhões de imigrantes ilegais no país. O artigo afirma que a maior parte destes imigrantes estão em processo de remoção ativa nos tribunais de imigração e revisa as maiores ações tomadas pelo governo Biden em seus três primeiros anos de mandato, com foco em aplicação de fronteira (border enforcement), aplicação interior e os impactos nas cidades norte-americanas, proteção humanitária, tribunais de imigração e admissões legais.


Como havia prometido durante sua campanha, logo no primeiro dia de mandato, Joe Biden reverteu muitas políticas de imigração utilizadas por Donald Trump, entre elas a interrupção da construção do muro na fronteira com o México, o chamado “banimento muçulmano”, uma série de ordens executivas que restringia viajantes de ao menos 14 países (principalmente de origem muçulmana), e a ordem executiva que reafirmava proteção aos beneficiários do programa DACA. Em janeiro de 2023, Biden anunciou que fortaleceria a admissão legal de imigrantes originários de Cuba, Haiti, Nicarágua e Venezuela, enquanto fortaleceria a segurança fronteiriça para evitar a entrada ilegal e, em maio do mesmo ano, sua administração aprovou o envio de novas tropas à fronteira com o México após o fim do Título 42. A construção do muro foi uma das maiores polêmicas no governo de Joe Biden, dado o fato de que, em outubro de 2023, sofreu amplas críticas de ambos os partidos após o anúncio da continuação da construção de 32 novos quilômetros do muro no Texas, mesmo afirmando não ter escolha já que os fundos para tal teriam sido designados ainda na administração Trump.

 

É importante ressaltar que Biden prometia, em sua campanha de 2020, uma mudança radical nas políticas de imigração. Entretanto, a grande massa de requerentes de asilo na fronteira EUA-México afetou significativamente os recursos de imigração do país, transformando-se em um problema político. De acordo com a publicação da CNN, o tratamento despendido à imigração pela administração de Joe Biden obteve seu menor índice de aprovação com apenas 30% dos americanos aprovando a maneira com que ele estava lidando com a fronteira. Ao se somar todas essas situações, é perceptível uma mudança drástica da maneira como Biden fala hoje sobre a situação na fronteira ao se afastar de suas posições mais liberais (ou progressistas) que adotou como candidato em 2020, uma época na qual as passagens ilegais eram significativamente menores do que são hoje.


A situação na fronteira se tornou um grande desafio político na busca de Joe Biden pela reeleição. Hoje até mesmo líderes democratas estão acusando sua administração de não fazer o suficiente para lidar com o assunto. Acrescido a isso, surgem questionamentos se as políticas adotadas por Biden são efetivas frente a esse crescente número de imigrações ilegais e à dificuldade de algumas cidades em lidar com o grande influxo deimigrantes.


Os poderes presidenciais no campo da imigração são limitados em reforçar leis já existentes, mas eles têm autoridade sobre como reforçar essas leis – é o que afirma o texto de The Conversation. A possibilidade de aprimorar essas leis de imigração depende também de um orçamento aprovado pelo Congresso. Sem essa aprovação, o presidente não pode usar o dinheiro para, por exemplo, aumentar a capacidade das unidades de detenção de imigrantes ou enviar mais agentes da Patrulha Fronteiriça (Border Patrol) para processar imigrantes indocumentados que entrem no país. É importante ressaltar que no começo de 2024, republicanos no Senado se recusaram a aprovar um projeto de lei que faria com que fosse mais difícil conseguir asilo no país e que daria mais poderes a Biden para recusar pedidos de asilo quando as travessias atingissem o número de 5.000 diárias.


O projeto de lei desenvolvido por um time bipartidário de legisladores também forneceria mais verba federal para auxiliar agências de imigração e cortes de imigração para revisar mais rapidamente solicitações de asilo e acelerar o processo, que permanece com milhões de casos pendentes. Biden afirmou que o projeto contrataria 1.500 agentes e oficiais de segurança de fronteira, além de 4.300 oficiais de asilo, acelerando  para apenas seis semanas o processo que, hoje, leva em média seis meses. Frente ao desafio da imigração, Biden considera agora utilizar a seção 212 (f) da Lei de Imigração e Nacionalidade (Immigration and Nationality Act) para obter mais controle sobre a imigração, já com que com essa lei o presidente poderá suspender temporariamente ou restringir a entrada de todos os estrangeiros cuja chegada seja considerada prejudicial aos Estados Unidos.


Mesmo que a crise migratória tenha sido um dos problemas sobre os quais Biden se mostrou mais ativo durante seu mandato, ela se mostra como uma de suas maiores vulnerabilidades frente à tentativa de reeleição em 2024, já que há um número recorde de passagens ilegais e a administração da fronteira sul seja o ponto mais criticado de sua administração nas pesquisas de satisfação. Além disso, o número de imigrantes sendo deportados ou devolvidos a seus países é, agora, maior do que era sob a administração de Trump, aumentando a força dos republicanos frente ao problema para demonstrar os motivos pelos quais o reeleito deve ser Donald Trump.


O atual presidente, ao se referir ao seu oponente, afirmou que “não demonizará os imigrantes dizendo que eles estão ‘envenenando o sangue do país’, não separará famílias e não banirá pessoas da América por causa de sua fé. Também disse que o projeto de lei não aprovado teria permitido que a fronteira fosse “fechada” quando se sobrecarregasse – o que é uma mudança drástica de tom para sua campanha atual. Outra lei da administração de Biden dita que um grande número de imigrantes se torne inelegível para solicitar asilo caso já tenha chegado ao país ilegalmente em pontos da fronteira que não são portos de entrada.


Ademais, a administração de Biden anunciou um acordo no qual membros da mesma família separados sob as regras da administração anterior receberiam benefícios temporários, também banindo separações familiares no futuro. Ele demonstrou certa abertura para a resolução da situação, afirmando ao concorrente: “ao invés de dizer aos membros do Congresso para bloquear a legislação, junte-se a mim, ou eu me juntarei a você, para dizer ao Congresso que passe essa lei de segurança da fronteira bipartidária. Podemos fazê-lo juntos. Essa estratégia pode ser benéfica para a imagem de Biden, como uma tentativa de reformular o assunto e responsabilizar os republicanos por se oporem à nova legislação que repararia o sistema falho de imigração.


Para atrair um número significativo de eleitores latinos, tanto Biden quanto Trump precisarão abordar a segurança fronteiriça junto a um caminho de legalização dos imigrantes que já estão nos EUA. O tema da imigração também pode ajudar os democratas a gerar mais entusiasmo entre os votantes negros, um subgrupo essencial da base democrata que tende a ter atitudes mais progressistas sobre as políticas migratórias do que os votantes latinos. O The Washington Post afirma que, em março de 2023, 60% dos eleitores negros aprovavam a maneira como Biden estava lidando com a imigração, número esse maior que qualquer outra raça ou etnia.


Finalmente, após duas eleições (2020 e 2022) nas quais a economia e a pandemia de COVID-19 foram temas centrais, a imigração volta à frente do imaginário votante, demonstrando que o mais provável é que o candidato que consiga mostrar aos eleitores que tem um plano que lide com os números migratórios, enquanto desenvolve abordagens para ajudar a encontrar um caminho para a legalização do status de imigrantes indocumentados, ganhará a oportunidade de um segundo termo como presidente dos Estados Unidos, ainda de acordo com o Washington Post.


De acordo com o texto de Brookings, sabendo que imigração pode vir a determinar quem será o próximo presidente dos EUA, a variável é qual dos discursos será o favorito: o de Donald Trump, que pretende tomar ações drásticas para interromper a imigração ou diminuí-la drasticamente, ou o de Joe Biden, que demonstra uma tom mais equilibrado com os migrantes latino-americanos, porém, também preocupado com os índices recorde que alcançou a entrada de imigrantes durante seu primeiro governo. A disputa entre os dois candidatos à presidência continuará a ser analisada pelo Latino Observatory. 

Pesquise uma notícia: