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Os afro-latinos são ignorados pelo Censo dos EUA

Editores | 14/06/2022 15:45 | CULTURA E SOCIEDADE
IMG Sarah L. Voisin/The Washington Post

Comunidades negras, latinas e nativas americanas tiveram a sua contagem subestimada no Censo de 2020 aumentando o ceticismo sobre a precisão de seus dados. Segundo análise publicada pelo The Washington Post, o censo enfrenta ainda um problema fundamental: “suas medidas na contagem de raça e etnia ignoram os afro-latinos”.

No entanto, mesmo que o censo melhore a sua metodologia a seleção e contagem ainda torna algumas identidades invisíveis. Embora as pesquisas tratem os latinos negros como latinos, a sociedade e as instituições dos EUA os tratam como negros com base em sua aparência. “A aparência dos afro-latinos pode determinar se são vistos como profissionais ou como perigosos, como cidadãos a serem protegidos ou ameaças a serem detidos. Como tal, os latinos negros experimentam taxas mais altas de discriminação do que os latinos não negros”, segundo a análise.

Antes de 1960, um “enumerador” federal (funcionário do censo) identificava a raça do entrevistado, não o próprio entrevistado. As pessoas negras ou as pessoas brancas e latinas tiveram a opção de se identificar como latinos ou hispânicos. Sob uma regra de 1930 do “One-drop rule” (“regra de uma gota de sangue”), um recenseador registraria qualquer pessoa com um único ancestral de ascendência africana subsaariana como negra e, os demais, como brancos. 

“Em seguida, o Censo de 1930 acrescentou a categoria de raça ‘mexicana’. Grupos de interesse latinos se opuseram a essa adição temendo consequências sociais e políticas negativas. No Censo de 1940, mexicanos e outros latinos não negros foram categorizados como ‘brancos’ novamente”.

“Em 1980, o censo incluiu a categoria de ‘origem hispânica’, permitindo que os latinos negros se incluíssem entre outros hispânicos. No entanto, até 2000, os indivíduos estavam limitados a uma identificação racial, registrando de forma imprecisa os muitos afro-latinos que se identificam como mulatos ou mestiços”, de acordo com o “The Post”.

Hoje, o censo moderno usa cinco categorias raciais e étnicas: 1) branco, 2) negro ou afro-americano, 3) índio americano ou nativo do Alasca, 4) asiático e nativo havaiano ou outro ilhéu do Pacífico e 5) de origem hispânica.

A análise aponta ainda um problema essencial: “a categoria ‘origem hispânica’ reflete uma reversão da década de 1970 por organizações latinas que começaram a pressionar por uma categoria étnica “hispânica/latina” para garantir financiamento e proteções federais. Isso criou uma identidade latina codificada como branca ou mestiça e não negra. Isso reflete o que chamo de ‘essencialização racial da minoria’, um processo no qual uma categoria racial se equipara à imagem da maioria do grupo com poder de liderança. À medida que os líderes latinos não negros se mobilizaram para adicionar a categoria ‘hispânicos’, os latinos negros foram negligenciados pelo financiamento federal e pela ação política”.

Assim, confundir “latino” com falante de espanhol seria um aspecto da “essencialização racial” pois deixa de fora países latino-americanos com as maiores populações negras, como Brasil e Haiti, e inclui os espanhóis europeus, que desfrutam o privilégio por serem europeus e brancos.

No questionário sobre raça do Censo de 2020, por exemplo, “Haitiano” está listado como “Negro”, e nenhum outro país latino-americano está listado com essa opção. Em contraste, categorias raciais de origens “brancas” excluem quaisquer países latino-americanos, mesmo aqueles conhecidos por terem populações brancas maiores do que a média.

“Embora o Escritório de Administração e Orçamento dos Estados Unidos afirme que o objetivo das diretrizes da questão de origem hispânica era fazer valer os direitos civis e a igualdade de acesso, ela falha em fornecer igualdade para os latinos negros que são mais vulneráveis ??à discriminação. Eles estão escondidos dentro de uma identidade latina mais ampla ou excluídos se forem haitianos ou brasileiros. Isso tem efeitos estruturais, tornando os latinos negros invisíveis para as instituições dos EUA e, portanto, levando à sua negligência intencional ou acidental”, conclui a análise.

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