Durante os primeiros meses da pandemia de Covid-19 nos EUA, a taxa de mortalidade per capita de negros americanos era quase duas vezes maior que a taxa de brancos e mais de duas vezes maior que a taxa de asiáticos. A taxa de mortalidade de latinos estava “no meio”, substancialmente inferior à taxa de negros, mas ainda acima da média.
Apesar de a pandemia escancarar a desigualdade étnica no acesso à saúde, com o passar do tempo e, mais recentemente, essas taxas se inverteram, segundo a publicação do
The New York Times.
“No ano passado, a taxa de mortalidade por Covid para americanos brancos foi 14% maior que a taxa para americanos negros e 72% maior que a taxa de latinos”, de acordo com os dados mais recentes das agências dos “Centros de Controle e Prevenção de Doenças” (CDC).
Essa reviravolta notável é resultado do aumento da vacinação entre negros e latino-americanos no país desde o ano passado. Hoje, a taxa de vacinação para ambos os grupos é ligeiramente maior em relação a dos americanos brancos, segundo pesquisas da Kaiser Family Foundation comentada pelo NYT.
Segundo a publicação, isso aconteceu graças aos intensos esforços de divulgação de trabalhadores médicos, organizadores comunitários e outros. As campanhas de saúde pública tiveram o potencial de diminuir as diferenças raciais durante a pandemia.
“Certamente, há ressalvas importantes para a história do Covid. Por um lado, a taxa total de mortalidade permanece mais alta para negros e latino-americanos, porque as disparidades iniciais eram muito grandes. [...] Mesmo assim, a história maior permanece: a Covid matou uma porcentagem menor de americanos negros, latinos ou asiáticos no ano passado do que americanos brancos. Negar essa realidade é perder uma parte importante da história do Covid”.
Há, no entanto, um fator preocupante que poderia explicar essa realidade. Segundo a pesquisa apresentada pelo NYT, a parcela de americanos brancos que receberam uma vacina não aumentou de forma significativa. A política poderia ser o principal motivo para isso acontecer.
“Cerca de 60% dos adultos republicanos são vacinados, em comparação com cerca de 75% dos independentes e mais de 90% dos democratas”, segundo dados da Kaiser Foundation. Os republicanos são desproporcionalmente brancos e mais velhos. Juntos, esses fatos ajudam a explicar por que a taxa de mortalidade de brancos foi recentemente maior do que a taxa de asiáticos, negros ou latinos.
“Em comunidades brancas fortemente conservadoras, os líderes não fizeram um trabalho tão bom explicando os benefícios da vacina e os riscos da Covid- 19, quanto os líderes nas comunidades negras e latinas. Em vez disso, muitas figuras conservadoras da mídia, políticos, membros do clero e outros amplificaram informações falsas ou enganosas sobre as vacinas. Milhões de americanos, por sua vez, optaram por não receber uma injeção que salva vidas. Alguns pagaram com a vida”.