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Latinos nos Estados Unidos: Um panorama demográfico

Editores | 14/10/2021 23:42 | ANÁLISIS
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Antes de avançar no detalhamento das características demográficas das populações de origem latino-americana nos Estados Unidos, é importante conceituar o termo “latino”, já que este assume uma grande diferença com relação às populações que sugiram na região do Lácio, onde hoje se encontra a cidade italiana de Roma. Latinos, assim como a designação de América Latina, diz respeito aos habitantes das ex-colônias ibéricas na América, cujas línguas, espanhol ou português, possuem raízes latinas. Apesar dessa definição baseada em raízes culturais comuns, a região canadense do Quebec, onde também se fala uma língua latina, no caso o francês, não se inclui nessa definição. De fato, América Latina e latino estão mais próximos de uma definição geopolítica do que no pertencimento comum. Mas, esta população, vista do ponto de vistas do grupo étnico majoritária dos Estados Unidos, os anglo-saxões, se apresenta como uma massa homogênea, dado o contraste com suas características fenotípicas.


Na medida em que avançamos na compreensão sobre a composição da população de origem latina, vamos descobrindo diferentes segmentações, não apenas por conta de diferenças de fenótipos, mas também pela grande diversidade cultural decorrente dos países de origem. Parte desta população não se encaixa na definição de “latino”, mas de “hispânicos”. Em parte, isso se deve ao próprio fenótipo, pois se veem como brancos, em contraposição aos “chicanos”, cuja pele é mais morena. Além disso, ser “hispânico” também implica numa diferenciação de classe social, uma vez que este grupo, muitas vezes oriundos da elite de países da América Latina, se associa às camadas de maior rendimento, já que a grande massa de “chicanos” compõe os estratos mais baixos da classe trabalhadora dos Estados Unidos.


Ainda assim, há outros recortes demográficos, como por exemplo a expressiva parcela da comunidade latina que possui raízes africanas, vindas de países como Cuba, Porto Rico, Colômbia, República Dominicana, Haiti, etc. A isso se sobrepõe outra importante identidade, que diz respeito aos países de origem de cada subgrupo. Como veremos mais adiante, a população de origem mexicana é majoritária, mas são expressivas as comunidades oriundas de Cuba, de Porto Rico, El Salvador, Guatemala, Colômbia, Venezuela, Brasil etc. Concluindo, o conceito de “latino” é muito fluído, mas ainda assim é útil para descrever uma comunidade que se organiza e busca influenciar o seu destino e os rumos da maior potência do mundo, os Estados Unidos da América.

 

O que diz o Censo de 2020?


De acordo com o Censo divulgado em setembro de 2021, a população dos Estados Unidos atingiu 328.239.523 pessoas, um aumento de 6,3% com relação a 2010, quando a população estimada era de 308.758.100. Deste total, a população declarada branca, que não era hispânica/latina era de 60,1%, enquanto que a população hispânica/latina era de 18,5%, e a população de afro-americanos era de 13,4%. 


Em comparação com 2010, a população de latinos cresceu de 50,5 para 62,1 milhões de pessoas. Os latinos foram responsáveis por 51,1% do crescimento populacional do país, aumentando para 18,5% da população dos EUA, de acordo com números do censo de 2020. Isso significa que a população hispânica cresceu 23% de 2010 a 2020. Em contraste, a população branca do país sozinha está encolhendo e envelhecendo. Em 2010, esta parcela representava 63% do total. Já em 2020, este percentual caiu para 57,3%. As pessoas que se identificam como brancas em combinação com alguma outra raça aumentaram 316%. De acordo com a análise feita pela CNN, os americanos brancos não hispânicos continuam a ser o grupo mais prevalente em todos os estados, exceto na Califórnia, Havaí e Novo México, bem como no Distrito de Columbia e Porto Rico. Existem agora sete estados e territórios - Califórnia, Novo México, Nevada, Texas, Maryland, Havaí e Porto Rico - onde a parcela de brancos não hispânicos da população é inferior a 50%. Na Califórnia, por exemplo, a população hispânica ou latina tornou-se oficialmente o maior grupo racial ou étnico do estado pela primeira vez. A comunidade hispânica ou latina agora representa 39,4% dos californianos, um aumento de 37,6% em relação a 2010. A população branca não hispânica na Califórnia era de 34,7% em 2020.


Isto se reflete numa maior diversidade e maior capilaridade das pessoas que não se consideram anglo-saxã. da população, tal como se pode constatar na figura 1, abaixo:

Figura 1. Diversidade racial dos Estado Unidos, 2020.

Fonte: CNN. Census release shows America is more diverse and more multiracial than ever 


É interessante notar que a diversidade étnica se espalha pela maior parte dos condados do país, tal como mostra o mapa, mas as maiores concentrações se localizam em estados do Sul e do Oeste do país, como na Califórnia, Texas, Flórida, Novo México, Arizona e Nevada. Entretanto, conforme podemos verificar na Figura 2, a seguir, podemos verificar que esta diversidade é bem demarcada nos condados de acordo com a origem étnica de dos maiores grupos minoritários: os latinos e os afro-americanos. Também merece destaque a caracterização de condados em que se considera a miscigenação em duas ou mais raças. 

Figura 2. Distribuição de grupos étnicos não-brancos por condado nos EUA, 2020.

Fonte: Brookings Institute: Mapping America’s diversity with the 2020 census. 


Chama atenção que onde a minoria afro-americana possui maior representatividade são os Estado do antigo Sul, desde a Virgínia e Carolina do Norte até a Louisiana, passando pela Geórgia. Há também grande concentração deste grupo em densas regiões metropolitanas, como em Nova York, Chicago, Washington (DC) e Saint Louis. Já a população de latinos se concentra na Flórida e nos estados que foram tomados do México, como o Texas, Novo México, Nevada, Arizona e Califórnia, mas também possui muita representatividade em grandes centros urbanos do Nordeste, como em Nova York, Boston e New Jersey, e no Meio-Oeste, como no condado de Will, Illinois. 

Um último aspecto a ser ressaltado diz respeito à origem das comunidades latinas nos Estados Unidos, conforme a Figura 3, a seguir:


Fonte: Pew Research Center. Hispanic origin groups in the U.S., 2019. 


Conforme se pode verificar, a população de origem mexicana representa a expressiva maioria da população latina nos EUA, com 61,5%. Segue a população de porto-riquenhos, com 9,7%. Neste caso, é importante ressaltar que a condição de estado-associado faz com que os habitantes de Porto Rico não encontrem dificuldades migratórias para os Estados Unidos, diferentemente de outras origens. Em seguida aparecem os cubanos e os salvadorenhos, com 3,9% cada. É importante ressaltar que a comunidade de migrantes de Cuba, pelos menos até 2017, possuía um status especial por conta da política dos “pés secos, pés molhados”, que garantia a permanência no país àqueles cubanos que fugiam do governo socialista de Havana. Já a imigração vinda de El Salvador ocorreu depois de um forte terremoto que abalou o país em 2001, quando o governo Bush liberou visto para que 200 mil os cidadãos para trabalhar e morar temporariamente nos EUA. Tal política foi extinta por Donald Trump em 2018.


Por fim, é necessário considerar os impactos da imigração ilegal da América Latina para os Estados Unidos sobre os dados coletados para o censo. De certa forma, isso cria uma dificuldade estatística em localizar pessoas "sem documentos" que se mantém distante de qualquer funcionário do governo dos EUA por medo de deportação. A situação atual na fronteira com o México, onde se concentram milhares de pessoas à espera de uma oportunidade para entrar no país, dá uma dimensão, ainda que parcial, ao problema da imigração ilegal. Existem milhares ou milhões de pessoas se escondendo não apenas dos analistas do censo, mas que também estão distantes de qualquer assistência social e direitos humanos.

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