Proposta do Biden daria mais opções para que latinos e pessoas do Oriente Médio e do Norte da África possam se identificar, potencialmente diminuindo a contagem da população branca.

De acordo com Silvia Foster-Frau, jornalista do Washington Post, a cada pesquisa do censo – ou formulário médico ou aplicação para emprego – Tala Faraj diz que não tem escolha a não ser identificar-se como algo que não é: branca. Faraj, 23 anos, é americana de origem iraquiana, mas o Oriente Médio geralmente não é uma opção quando ela é perguntada sobre sua raça e etnia.

"É esse sentimento de que eu não pertenço realmente. Como se não houvesse espaço para mim aqui e eu apenas tivesse que me conformar com o que esse país me diz quem eu sou", disse Faraj, que mora em Chicago. "Isso me faz sentir triste." Atualmente, as pessoas originárias do Oriente Médio ou do Norte da África são incluídas na categoria branca, algo que, de acordo com a proposta de Biden, essas pessoas vêm pedindo mudanças há três décadas.

De acordo com o Censo de 2020, os Estados Unidos são 59% brancos, quase 19% hispânicos, 13% negros e 6% asiáticos. As mudanças propostas para o censo de 2030 poderiam reduzir ainda mais a contagem da população branca e refletir a composição cada vez mais diversa do país.

"As normas federais de raça e etnia são intrinsecamente complexas porque buscam capturar construtos sociopolíticos dinâmicos e fluidos", disse a Escritório de Orçamento e Gestão na proposta lançada na sexta-feira. Nos anos que se seguiram desde a última revisão das normas do censo, "houve grandes mudanças sociais, políticas, econômicas e demográficas nos Estados Unidos."

A proposta da administração de Biden é preliminar e haverá um período de comentários públicos após sua publicação no Diário Oficial do Governo Federal (Federal Register). A mudança proposta afetaria a forma como o governo federal captura informações raciais e étnicas no censo decenal e em pesquisas, como as feitas pelo “National Center for HealthStatistics" ou pelo “Department of Education”, de acordo com Mark Hugo Lopez, diretor de pesquisa de raça e etnia da “Pew Research Center”.

A população pode oferecer comentários escritos sobre a proposta até 12 de abril. A administração disse em um comunicado que pretende finalizar as revisões até o verão de 2024. "As recomendações são preliminares - não finais", disse o comunicado.

“Precisamos de dados em nossas comunidades para defender as mesmas e para prover serviços adequados a elas, e o censo é a fonte de todos esses dados”. Segundo Maya Berry, diretora executiva do Instituto Árabe Americano, ao invisibilizar grupos nos dados do censo, ocorrem consequências reais nas vidas das pessoas.

A proposta do Biden tem como objetivo mudar a forma como as pessoas identificam sua raça e etnia, dando mais opções aos Latinos e às pessoas do Oriente Médio e da África do Norte. Além disso, os Latinos terão a oportunidade de oferecer mais detalhes sobre sua origem étnica, incluindo se são porto-riquenhos, cubanos ou mexicanos-americanos. As pessoas multirraciais também poderão marcar mais de uma caixa de raça.

A atual versão do censo "realmente prejudica nossa habilidade de falar sobre a discriminação de raça que os Latinos enfrentam neste país, porque para nós é negada a possibilidade de articular isso nos dados", afirmou Julie Dowling, professora de estudos latino-americanos e latinos na Universidade de Illinois em Chicago.

A proposta do Biden é um reconhecimento da "maior diversidade" do país, de acordo com Rogelio Sáenz, demógrafo e professor na Universidade do Texas em San Antonio. Para o professor, é importante que essas mudanças sejam implementadas para que as comunidades possam ser corretamente representadas e receber o apoio adequado.

Além disso, segundo a NBC News, outras propostas da administração Biden incluem a remoção de negro e Extremo Oriente como identidades raciais e a revisão da descrição da categoria "índio americano ou nativo do Alasca" para incluir "todos os indivíduos que se identificam com qualquer um dos povos originais da América do Norte, Central e do Sul". Além disso, a administração está propondo a descontinuação do uso de palavras como maioria e minoria. Também está considerando permitir que as pessoas marquem mais caixas em sua identidade racial ou étnica e forneçam mais detalhes em cada categoria.