Em 2024, os eleitores latinos jovens serão uma parte fundamental do eleitorado que decidirá a corrida entre Joe Biden e Donald Trump. Segundo estimativas da Circle, dos oito milhões de jovens que passaram a votar em 2022, dois milhões eram jovens latinos. Além disso, as regiões do país apresentam cada vez mais latinos como novos eleitores, como no sul, em que esse grupo abarca 24% dos novos votantes e no nordeste, onde essa porcentagem chega a 19%. Contudo, no atual cenário político americano, entre conflitos internacionais e problemáticas internas, muitos eleitores jovens estão apresentando certa desmotivação para ir votar no dia da eleição, com vários enxergando Biden e Trump como opções similares. Logo, como se dá essa dinâmica e em qual forma os candidatos serão impactados?
Antes de prosseguir nesse ambiente de desmotivação, é importante compreender como é o comportamento do eleitorado jovem latino nas eleições americanas, que comumente favorece o partido democrata. Segundo uma pesquisa da Harvard Youth Poll, Joe Biden possui 50% do apoio desse grupo contra 27% das intenções de Trump. Isso denota uma aproximação desse grupo com os democratas e, de certa forma, deveria refletir seus interesses na política dos Estados Unidos. Os hispânicos em geral também possuem essa aproximação com os democratas, sendo que nas duas últimas eleições, Joe Biden conquistou 66% dos votos latinos e Hillary Clinton, derrotada por Trump, ganhou 65% dos votos. Todavia, como já é expresso nos dados, o governo de Biden enfrentou momentos difíceis que, de certa maneira, afastou muitos latinos de sua base eleitoral, exemplo das medidas sobre imigração adotadas pela Casa Branca recentemente. Como reflexo, uma pesquisa conduzida esse ano mostrou Trump liderando as intenções de voto latino com seis pontos de vantagem sobre o atual presidente, situação que impacta diretamente os eleitores mais jovens.
Para o pleito desse ano, várias questões estão na perspectiva dos eleitores jovens latinos, como a guerra entre Israel e Hamas e o aumento dos preços das casas, por exemplo. O envolvimento do governo Biden nesses conflitos, além de uma certa ingerência do aumento de preços, mesmo com a aprovação de diversos atos institucionais, exemplo do InflationReduction Act, que teria esse objetivo mas é algo não notado pela população americana.
Segundo Marcel Lopez, jovem de 20 anos e um dos vários entrevistados pela NBC News nos estados da Pensilvânia, Michigan e Georgia, as guerras em que os Estados Unidos estão envolvidos são pontos a serem analisados para ele. A Guerra da Ucrânia, iniciada em 2022, seria uma “guerra invencível” de acordo com ele, que se mostra insatisfeito com as quantias enviadas pelo governo americano ao país europeu. Além desse ponto, a pesquisa destacou que o aumento do valor de imóveis é uma das principais preocupações desse eleitorado, situação que vem se acentuando no país nos últimos anos.
Em setembro de 2023, por exemplo, o valor médio de uma casa média nos Estados Unidos era de US$412,000. Para se ter ideia, em 2020, esse mesmo valor girava entorno de US$230,000, segundo pesquisa da Zillow Data. Além disso, os valores se alteram profundamente se compararmos os estados do país, como é o caso da Califórnia, um dos estados mais atrativos para a população jovem mas que conta com valor médio dos imóveis de US$787,000, preço três vezes maior do que a média nacional. Paralelamente a isso, o custo de vida no país se encontra nas alturas, com moradia, alimentos e combustíveis gerando um aumento de preços generalizado no país. Em abril deste ano, considerando intervalo de 12 meses, os preços aumentaram em 3,5%, contexto negativo para a população jovem.
Esse contexto que mancha a presidência de Biden, envolvendo conflitos impopulares entre os jovens, inflação e políticas contraditórias acerca da imigração tornam o presidente frágil perante a candidatura de Donald Trump. Segundo uma pesquisa feita pela CNN, 68% dos jovens americanos consideram a atual gestão da Casa Branca como um “fracasso”, justamente pela falta de conexão de Biden com pautas importantes para esse eleitorado, exemplo da dívida estudantil. Todavia, Trump não está em boas condições também, tendo em vista que 62% do eleitorado jovem, que tem entre 18 e 34 anos, não está satisfeito com a opção dos candidatos para e eleição de2024.
É importante frisar que a Casa Branca vem tentando se aproximar do eleitorado jovem, mesmo que com ações que não resultem em resultados positivos. Por exemplo, desde o começo da presidência, Biden vem buscando reduzir a dívida estudantil do país, exemplo de seu plano chamado Biden-Harris Administration’s Student Debt Relief Plan. Contudo, a Suprema Corte dos Estados Unidos barrou uma redução prevista em US$ 400 bilhões de dólares do governo federal sobre a dívida estudantil em 2023, o que frustrou o presidente, mas não o impediu de cancelar porções menores da dívida, que não trazem uma percepção muito visível sobre as ações da Casa Branca em relação ao tópico. Além disso, destacam-se posicionamentos favoráveis ao aborto e críticas mais duras sobre as ações de Israel na guerra contra o Hamas, mas sem mudanças muito significativas das posições do governo federal sobre esses tópicos. Mesmo com essa tentativa de aproximação, até mesmo com a campanha de Biden entrando no Tik Tok, rede social banida nos Estados Unidos por questões de segurança nacional, visando mais engajamento com o eleitorado jovem, ainda é preciso uma mudança de atitude mais incisiva do presidente para reconquistar esse eleitorado.
Ou seja,
assim como o restante do eleitorado jovem, os eleitores jovens latinos se
encontram nesse cenário em que dois candidatos impopulares disputam um mandato
de quatro anos num país que vem passando por mudanças econômicas, políticas e
sociais muito fortes. Mesmo com o maior apoio por parte desse eleitorado, as
ações de Biden nos últimos três anos vêm afastando esse público de sua
campanha, exemplificado pelo apoio a Israel, inação sobre a dívida estudantil e
o aborto e incapacidade de reduzir os custos de vida. Paralelamente, mesmo que
seja natural o candidato da oposição estar mais favorecido nas pesquisas que o
presidente em exercício, Donald Trump vem apresentando posições extremistas
sobre vários temas importantes para os jovens e os sucessivos processos
jurídicos têm afetado sua imagem para a disputa. Portanto, o cenário é incerto
de saber como será o apoio dos eleitores jovens latinos, mesmo com parte desse
eleitorado favorecendo o atual presidente. Logo, é importante acompanhar a
disputa de perto para compreender toda a dinâmica, em razão dos próximos meses
serem fundamentais para o resultado em novembro.