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Censo dos EUA não reflete experiências vividas por latinos e afro-latinos, segundo estudo

Editores | 22/08/2024 12:27 | CULTURA E SOCIEDADE

O relatório divulgado pelo UCLA – Latino Policy and Politics Institute analisa as falhas nos métodos atuais de coleta de dados raciais e étnicos usados pelas pesquisas federais dos Estados Unidos, incluindo o Censo. O estudo foca particularmente nas deficiências que afetam a representação da comunidade latina, com destaque para os afro-latinos, cujas experiências vividas muitas vezes não são refletidas de forma precisa. Intitulado “Latino não é uma raça: entendendo experiências vividas por meio da Street Race”, o relatório critica a abordagem adotada pelo Escritório de Gestão e Orçamento (OMB) do governo dos EUA, que, segundo os autores, não leva em conta as complexidades e nuances da identidade racial dentro da comunidade latina.


Em março de 2024, o governo dos EUA revisou sua abordagem para a classificação racial e étnica, combinando perguntas sobre raça e etnia em uma única consulta nos formulários federais. Essa mudança permitiu que os entrevistados escolhessem múltiplas categorias simultaneamente, como "negro", "índio americano" e "hispânico". Apesar dessa aparente flexibilidade, o relatório do UCLA destaca que essa metodologia pode gerar classificações incorretas, especialmente para afro-latinos e outros subgrupos minoritários dentro da comunidade latina. Por exemplo, indivíduos que se identificam como latinos e, ao mesmo tempo, selecionam uma categoria racial como "branco" ou "negro" correm o risco de serem designados como "multirraciais" pelo Census Bureau, ao invés de serem reconhecidos como latinos de uma raça específica. Além disso, o Censo tradicionalmente prioriza a ideia de etnia hispânica ou latina como sendo derivada de uma herança de língua espanhola, o que pode excluir outros grupos, como os brasileiros, da categorização adequada.


Essa categorização inadequada não é apenas uma questão técnica, mas tem implicações sérias para o princípio da auto identificação, tornando grupos como os afro-latinos mais invisíveis nas estatísticas. Cecilia Nuñez, coautora do relatório, enfatiza que essas falhas têm um impacto profundo no desenvolvimento de políticas públicas e na alocação de recursos. Dados precisos são essenciais para a criação de políticas eficazes que abordem desigualdades sistêmicas enfrentadas pelos latinos e possam trazer mudançassignificativas.


Para lidar com essas questões, o relatório do UCLA propõe a introdução de uma nova categoria de "Street Race" no Censo. Essa pergunta adicional buscaria capturar como os entrevistados acreditam que os outros percebem sua raça com base na sua aparência física. Os pesquisadores argumentam que essa abordagem fornecerá uma compreensão mais precisa de como os latinos são racializados na vida cotidiana e pode ajudar a corrigir algumas das limitações associadas à questão combinada de raça e etnia.


O conceito de "street race" é destacado no relatório como uma maneira de desafiar a noção de que raça é uma questão puramente biológica ou genética. Em vez disso, o estudo afirma que a raça deve ser entendida como um status social amplamente visual, moldado por fatores como aparência física e origem geográfica. Isso é particularmente relevante para afro-latinos, que, devido a suas características fenotípicas, podem estar mais sujeitos ao racismo e discriminação do que latinos brancos. Essa situação pode ser ainda mais agravada por fatores como proficiência limitada em inglês ou questionamentos sobre seu status de imigração.


O relatório conclui que, ao não captar a complexidade das identidades raciais e étnicas dos latinos, especialmente dos afro-latinos, as pesquisas federais falham em fornecer os dados necessários para enfrentar as desigualdades estruturais que afetam essas comunidades. A inclusão de novas abordagens, como a "street race", poderia melhorar significativamente a precisão dos dados, permitindo a formulação de políticas públicas mais justas e eficazes.

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