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Hispânicos e Latinos: personalidades que moldam a América

Greiciele da Silva Ferreira / Letícia Escorcio Lopes | 04/11/2024 11:27 | Análises

O Mês Nacional da Herança Hispânica, que acontece entre 15 de setembro e 15 de outubro, é um mês em que se celebra e se reconhece as contribuições dos hispânicos e latino-americanos para os Estados Unidos e seus âmbitos. Em diversas áreas da sociedade se destacam grandes personalidades de origem latina que fizeram e fazem história no país. Os latino-americanos são a população que mais cresce nos EUA, respondendo por cerca de 18% – 60,6 milhões – da população total do país, e, junto à expansão populacional, cresce sua influência na cultura, na política e na economia.


Para honrar a cultura hispânica e o seu impacto nos Estados Unidos, a revista Times lança, todos os anos, uma lista de líderes latinos em posição de destaque, comentando sobre sua contribuição dentro daquele ano. Com isso, a análise em questão pretende contribuir, a partir de um olhar cultural e político mais assíduos, com figuras de origem latina que não estiveram presentes na lista da Times do ano de 2024, mas que merecem visibilidade especial por ações que modificaram a história dos Estados Unidos para sempre.

 

      Sonia Sotomayor: JUÍZA DA SUPREMA CORTE DE ORIGEM HISPÂNICA

Nomeada para a bancada federal em 2009 pelo presidente Barack Obama, a juíza Sonia Sotomayor foi a primeira latina a ocupar a posição e a quarta mulher a servir na mais alta corte dos Estados Unidos. Sotomayor fez parte de duas grandes decisões históricas: ela estava entre os seis juízes a defender o Affordable Care Act em King vs. Burwell em 2015 – a decisão permitiu que o governo federal continuasse a fornecer subsídios para aqueles que compram cuidados de saúde, sejam eles estaduais ou federais – e também esteve ao lado da maioria em Obergefell vs Hodges em 2015, uma decisão que tornou o casamento entre pessoas do mesmo sexo legal em todos os 50 estados.


Defensora da importância de um judiciário independente, a juíza, durante uma visita a Minnesota, disse que a educação cívica é fundamental para preservar a democracia e o Estado de Direito; e comentou: "Para preservar nossa democracia, todos devemos nos comprometer a ensinar nossos filhos sobre a importância da lei e de um judiciário independente.

 

      Sylvia Rivera: ATIVISTA AMERICANA

Sylvia Rivera foi uma trabalhadora transgênero que se tornou ativista nas décadas de 1960 e 1970 após um ocorrido em que os clientes do Stonewall Inn rejeitaram violentamente uma batida policial em 1969.


Como ativista trans latina, Rivera fez campanha com a Gay Activist Alliance (GAA) na cidade de Nova York para promulgar uma lei de não discriminação, porém, não sentia que se encaixava com os membros majoritariamente gays, masculinos e brancos do GAA (na época); por isso, Sylvia deixou o grupo e redirecionou sua atenção para trabalhar com adolescentes sem-teto, co-fundando os Street Transvestite Action Revolutionaries (STAR) com Marsha P. Johnson na década de 1970. A STAR House, que forneceu abrigo e um espaço social para profissionais trans e outros jovens LGBTQ+, foi o primeiro abrigo para a comunidade LGBTQ+ nos EUA e o primeiro a ser organizado por mulheres negras.

 

      Dolores Huerta: LÍDER TRABALHISTA E ATIVISTA DOS DIREITOS HUMANOS

Co-fundadora da United Farm Workers Association, Dolores Huerta passou a maior parte de sua vida lutando por melhores condições de trabalho para os trabalhadores rurais e pelos direitos dos oprimidos. Quando adolescente, Huerta, indignada com as injustiças raciais e econômicas que viu no Vale Central agrícola da Califórnia, mais tarde encontrou sua vocação como organizadora enquanto servia na liderança da Organização de Serviços Comunitários de Stockton, de acordo com sua fundação. Ela liderou campanhas de registro de eleitores e pressionou os governos locais por melhorias nos bairros. Huerta também co-fundou a Associação de Trabalhadores Agrícolas, antecessora do Sindicato dos Trabalhadores Agrícolas Unidos, com Cesar Chavez.


Huerta trabalhou para eleger vários candidatos, incluindo o presidente Bill Clinton e o governador da Califórnia, Jerry Brown. Ela também é creditada por cunhar o slogan "Sí se puede" – espanhol para "Sim, nós podemos" – o mantra da campanha presidencial do ex-presidente Barak Obama em 2008. Obama reconheceu Huerta como a fonte da frase quando lhe concedeu a Medalha Presidencial da Liberdade em 2012. Hoje, sua fundação, a Fundação Dolores Huerta, defende mulheres, crianças e pessoas que vivem em comunidades empobrecidas, enquanto a própria Dolores continua a ensinar os imigrantes sobre as leis ou agências que podem protegê-los, bem como os benefícios a que têm direito. Ela viaja pelo país em apoio à igualdade e aos direitos civis.

 

      Cesar Chavez: ATIVISTA AMERICANO

Nascido no Arizona, numa fazenda familiar de trabalhadores rurais migrantes, Cesar Chávez pôde testemunhar as duras condições que os agricultores enfrentavam e, hoje, é um dos ativistas de origem latino-americana mais reconhecidos do país. A partir de seu contexto de origem, a atuação de Chávez foi primordialmente marcada pela promoção de melhores condições de vida e de trabalho aos empregados agrícolas. Chávez liderou marchas, boicotes, fez várias greves de fome para exigir salários justos e condições de trabalho fundamentais, e, utilizando, também, de abordagens não-violentas, ele co-fundou a National Farm Workers Association em 1962, que mais tarde viria a se tornar a United Farm Workers.


Cesar atuou, por toda sua vida, como líder sindical e dedicou seus dias à garantia de uma mudança de cenário aos trabalhadores agrícolas.

 

      Rita Moreno: CANTORA E DANÇARINA

Nascida em Humacao, em Porto Rico, Rita Moreno abriu portas para artistas latinos na indústria do entretenimento através das conquistas de sua carreira. Moreno se mudou aos Estados Unidos ainda criança, junto de sua mãe, e seu desempenho no mundo artístico e do cinema alcançou Hollywood, se tornando uma das primeiras mulheres latinas a ter uma carreira de sucesso em filmes na década de 1950. Rita não apenas foi premiada com um “Oscar”, como também conquistou um Emmy, um Grammy e um Tony, tornando-se uma das poucas artistas a alcançar o status de "EGOT" (vencedora dos quatro principais prêmios da indústria do entretenimento). Ao longo de toda sua trajetória, Rita Moreno quebrou estereótipos sobre latinos em Hollywood e trabalhou para aumentar a representação e a diversidade na mídia, sempre utilizando de sua voz para trazer aos holofotes questões importantes que afetam a comunidadehispânica.

 

 

 

      Ellen Ochoa: ENGENHEIRA E EX-ASTRONAUTA DE ORIGEM MEXICANA

Ellen Ochoa, sumariamente, foi a primeira mulher hispânica a viajar ao espaço, em 1993, posteriormente atuando como diretora do Centro Espacial Johnson da NASA entre 2013 e 2018. Ochoa nasceu em Los Angeles na década de 1950, mas sua identidade cultural e as experiências vividas por sua família mexicana desempenharam um papel importante em sua formação e em seu compromisso com a educação e com a promoção da diversidade nas áreas de ciência e tecnologia. “Ao longo de sua carreira na NASA, Ochoa fez um total de quatro voos espaciais, passando quase 1000 horas no espaço. Além de sua carreira como astronauta, ela também ocupou posições de liderança na NASA, incluindo a diretoria do Centro Espacial Johnson em Houston, Texas, onde supervisionou o treinamento de astronautas e operações de voo.” A fulcralidade da atuação de Ochoa, num contexto social, se encontra na promoção da diversidade dentro da área de STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática), especialmente voltado ao acesso a mulheres e minorias.


Em suma, a presença vibrante e dinâmica dos latinos e hispânicos nos Estados Unidos é um fator crucial para o crescimento econômico e social do país. Com um impacto significativo que representou, em 2020, cerca de 13% do PIB dos EUA equivalente a aproximadamente USD US$ 2,8 trilhões. Esse grupo não apenas contribui para a criação de empregos e aumento de salários, mas também impulsiona a produtividade e a inovação em diversas áreas. A crescente população latina, que já representa quase 1 em cada 5 pessoas nos EUA, está remodelando todos os aspectos da sociedade americana e, até 2060, esse número deve quase dobrar; espera-se que os latinos sejam um em cada quatro, totalizando 119 milhões.


É importante ressaltar que os latinos não são um monólito; sua diversidade enriquece o tecido social americano e promove melhorias na vida de seus pares e de outras minorias excluídas. À medida que o país enfrenta desafios relacionados à imigração e à integração social, é essencial reconhecer o papel vital que os latinos desempenham, dado o fato de que grande parcela da população Latina se encontra em idade produtiva e empreendedora. A redução da imigração poderia comprometer essa força, colocando em risco a posição dos Estados Unidos como potência mundial. Portanto, é imperativo valorizar e apoiar as contribuições dos hispânicos e latinos, garantindo que suas vozes sejam ouvidas e suas necessidades atendidas. O futuro dos Estados Unidos está intrinsecamente ligado ao sucesso e à inclusão deste grupo demográfico em constante crescimento.  

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