Um grupo de líderes latinos no condado de Prince George’s, Maryland, disse que a luta por recursos para as suas comunidades durante a pandemia foi exacerbada pela quase total falta de funcionários latinos no governo local.
No gabinete da executiva de Prince George's, a democrata Angela Alsobrooks, dentre os 39 funcionários não há nenhum latino, mesmo considerando que este grupo representa 20% da população local, em que a maioria do condado é composta por afro-americanos. Por da falta de representatividade, a liderança latina do condado encontrou muitas dificuldades para preencher as lacunas deixadas pela ausência de políticas públicas durante a pandemia, como a logística para a testagem de Covid-19 e a distribuição de alimentos e vacinas.
Em outubro de 2021, um grupo de líderes latinos emitiu uma declaração em que destacava a falta de representação, dizendo que seus pedidos de auditoria junto ao condado foram indeferidos, e seus apelos para que a administração mudasse suas práticas de recrutamento ficaram sem resposta.
Segundo reportagem do
The Washington Post, esta é uma situação antiga, que revela o atrito entre as comunidades negras e latinas lutando por recursos. Isto se repete em outras localidades que concentra uma população marginalizada, predominantemente de negros e latinos.
Em resposta a essa queixa dos líderes latinos, a executiva do condado declarou, por meio de seu porta-voz, que “Valorizamos a inclusão e a diversidade, e o governo do condado fez esforços para garantir que a comunidade latina tenha um assento à mesa enquanto as decisões são tomadas”, segundo a publicação.
“Prince George's” é conhecido como um refúgio para a classe média negra, uma jurisdição onde a riqueza média aumentou à medida que os moradores brancos da classe trabalhadora se mudaram na década de 1980. A primeira onda de imigração latina ocorreu na mesma década, por conta da Guerra Civil em El Salvador, e o aumentou nas décadas seguintes por novos fluxos vindos da América Central, como de El Salvador, Honduras e Guatemala.
Esta mudança demográfica fez aumentar as tensões entre os negros e os latinos. “Quando o antecessor de Alsobrooks, Rushern L. Baker III, pressionou para abrir duas escolas internacionais para imigrantes, isso provocou indignação entre os afro-americanos. A filial da NAACP (organização ativista pelos direitos civis e justiça social para a população negra) do condado argumentou que a ação tomaria recursos de estudantes negros, cujas escolas foram historicamente subfinanciadas”, de acordo com o The Washington Post.
“Embora Maryland tenha sido o estado mais diversificado da Costa Leste, de acordo com o Censo de 2020, não há latinos em sua delegação do Congresso e o Senado estadual não tem um membro latino desde a saída de Victor Ramirez, em 2018. Na Câmara de 141 membros dos Delegados, Peña-Melnyk é um dos quatro latinos. Em Prince George’s e em todo o país os latinos estão sub-representados no recenseamento eleitoral. No condado, existem mais de 60.000 imigrantes latinos indocumentados que não podem para votar”, segundo a mesma publicação.
Há ainda outros dados sobre a disparidade no condado: na questão de segurança alimentar, antes da pandemia, os moradores negros representavam 21% dos novos famintos, enquanto que os residentes latinos representavam 28%. No entanto, a população latina foi relegada ao segundo plano. Tome-se por exemplo a distribuição de comida, que ficou concentrada nos estacionamentos das maiores igrejas da comunidade negra. Como o acesso era feito a partir de carros, muitos latinos tiveram dificuldade de acessar o auxílio.
Ainda de acordo com o The Washington Post, com relação à falta de representatividade latina na administração local, “a chefe de gabinete de Angela Alsobrooks, Joy Russell, disse que o problema se dá pela falta de interesse dos latinos. Ela observou que não há candidatos latinos entre os 96 postulantes ao conselho de controle da polícia local. O governo pediu que grupos comunitários e líderes para os latinos se aproximassem, disse ela”. No entanto, ela não detalhou publicamente os planos para melhorar a representação. Já o escritório de direitos humanos do condado disse que uma auditoria de diversidade solicitada por líderes latinos estava fora de seu alcance”.