O governo dos Estados Unidos estimou que, até o final de 2022, o número de cubanos que chegarão à fronteira entre os EUA e México pode atingir o maior nível histórico.
No mês de março deste ano, a quantidade de cubanos que cruzou essa fronteira ultrapassou a chegada de pessoas oriundas de países da América Central, conforme os dados internos da Customs and Border Protection (Alfândega e Proteção de Fronteiras), publicados pela
NBC News.
Segundo a publicação, até o final do mês de março, foi atingida a média de 1.200 cubanos que atravessaram a fronteira em uma semana, ou seja, 460% em relação ao mesmo período no ano passado. O rápido aumento da quantidade de travessias pela fronteira do México, pode ser ilustrado com se compararmos os dados o mês de fevereiro – quando foram detidos cerca de 16.600 cubanos – em relação ao março, quando o número alcançou a marca de 32.000 pessoas.
Cuba está enfrentando escassez de alimentos e remédios, bem como o aumento da inflação, uma situação agravada pela pandemia. Essa atual conjuntura foi propícia para que se iniciarem protestos em toda a ilha, a partir de julho do ano passado. O governo cubano culpa os EUA pelo aumento da imigração e do contexto de escassez material, devido principalmente ao período de seis décadas de bloqueio econômico, bem como ao fechamento da seção consular da embaixada de Havana, um fator importante que incentivaria ainda mais os cubanos a buscar formas alternativas de saída do país. Para imigrar de forma legal, os cubanos têm que se deslocar para Georgetown, na Guiana, para requerer vistos de admissão nos Estados Unidos. Os principais contornos das relações entre os EUA com a Ilha estão sob análise no texto
disponível em nosso site.
A vice-diretora para assuntos do Ministério das Relações Exteriores de Cuba, nos Estados Unidos, Johana Tablada, acusou a política dos EUA em relação a Cuba como “desumana, insensível, desonesta, extremamente cruel e ilegal”, segundo a NBC.
“A Nicarágua, aliada próxima de Cuba, anunciou em novembro que suspenderia a exigência de visto para cubanos para promover intercâmbio comercial, turismo e relações familiares humanitárias. Mas o resultado foi um êxodo de cubanos para a Nicarágua, de onde partem para a fronteira mexicana com os EUA. Um voo para a Nicarágua pode custar mais de US$ 3.000, um preço que está fora do alcance da maioria dos cubanos. Quem consegue comprar passagem vende muitos de seus pertences e muitas vezes recebe ajuda de parentes no exterior”, denuncia a publicação.
Para os cubanos, uma opção desesperada à carência material é a de tentar fazer a travessia entre os países pelo mar em barcos improvisados ou em embarcações não apropriadas. Mas a maioria dos cubanos que conseguem chegar com vida pelo mar, acabam sendo devolvidos a Cuba.
A atual crise econômica, a pandemia e a invasão da Ucrânia pela Rússia, aliada próxima de Cuba, formaram uma “tempestade perfeita”. “Todos esses fatores estão pressionando as pessoas a procurar maneiras de sair, de forma legal ou ilegalmente”, segundo Jorge Duany, professor de antropologia especializado em migrações, da Florida International University, para a NBC News.