Notícias da separação de familiares na fronteira entre os Estados Unidos e México ganharam manchetes internacionais em 2018, com as imagens de um centro de detenção federal que mostravam dezenas de crianças em desespero chorando por seus pais.
Apesar de o conhecimento mundial deste fato ter se dado em 2018, um programa piloto de reunificação das famílias imigrantes já havia começado em 2017 na área de El Paso, Texas.
Segundo reportagem da
Voice of America (VOA), “cinco anos depois, das mais de 5.000 crianças que, segundo documentos judiciais, foram separadas de seus pais sob a política de tolerância zero do ex-presidente Donald Trump – para fronteiriços não autorizados e aqueles que se apresentaram legalmente nos portos de entrada –180 crianças ainda aguardam reencontrar seus pais, muitos destes, expulsos dos Estados Unidos”.
No entanto, advogados da American Civil Liberties Union (ACLU) acreditam que o número de crianças que ainda não foram devolvidas aos seus pais é muito maior. Muitas delas ainda se encontram em orfanato e outras estão com parentes que nunca haviam conhecido antes.
Lee Gelernt, o principal advogado da ACLU que iniciou um processo contra o governo pleiteando a interrupção da política de Trump, representando as famílias separadas, disse à VOA que cerca de 1.000 famílias hoje ainda não estão reunidas.
“Faço este trabalho há 30 anos, e esta é de longe a pior coisa que já vi. Estamos falando realmente de um erro histórico deste país porque não foi um acidente. Não foram alguns erros. Foi uma política deliberada nos mais altos níveis do governo dos Estados Unidos, sentando-se e dizendo: ‘Vamos afastar as crianças de seus pais para que estes digam: Vamos desistir de nossos pedidos de asilo’. E ninguém nunca tentará entrar no país’”, falou o advogado à reportagem.
Poucas semanas depois de assumir o cargo em janeiro de 2021, o presidente Joe Biden criou uma força-tarefa para reunir crianças separadas de suas famílias na fronteira dos Estados Unidos com o México.
Em março do mesmo ano, o Departamento de Segurança Interna (DHS) anunciou que algumas das famílias poderiam se reunir e ter permissão para ficar no país, e criou sites em inglês, espanhol e outros idiomas onde os familiares separados podiam se registrar para obter ajuda. Cerca de 1.075 famílias se cadastraram nos dois sites do DHS e alguns familiares estão fora dos EUA esperando o reencontro, segundo o relatório do
DHS de março deste ano.
Apesar de milhares de crianças separadas conseguirem se reunir com seus pais desde 2017, a força-tarefa tem sido muito prejudicada por obstáculos logísticos, legais e políticos. “Sob o governo Trump, o processo de reunir as famílias começou depois que um juiz federal ordenou que o governo interrompesse as separações e reunisse as famílias dentro de 30 dias. O governo perdeu o prazo do tribunal e a maior parte do trabalho foi feito pela ACLU e organizações de apoio a imigrantes sem fins lucrativos”, de acordo com a Voice of America.
Em dezembro passado, o DHS declarou que houve progressos significativos no processo de reunião dessas famílias e que, em março deste ano, quando a força-tarefa completou um ano, 147 crianças se reencontraram com seus pais.
“Em meio a litígios em andamento, o The Wall Street Journal informou em 2021 que o Departamento de Justiça estava considerando pagar cerca de US$ 450.000 a cada pessoa afetada pela política de tolerância zero. Quando os repórteres perguntaram a Biden em novembro de 2021 sobre os possíveis pagamentos de US$ 450.000, ele disse: ‘Isso não vai acontecer’.”
E em dezembro passado, o governo abandonou as negociações de acordo, deixando ambos os lados para litigar em tribunal aberto. Até agora, o Congresso não votou nenhum projeto de lei para ajudar as famílias que foram separadas sob a política de tolerância zero.
“Continuamos a procurá-los!” “Já se passaram cinco anos, e há algumas crianças que não veem seus pais, há quatro ou cinco anos. E então nos encontramos nesta situação horrível em que as crianças – algumas delas tão jovens – que nem ao menos se lembram realmente de seus pais”, declarou à publicação o advogado Lee Gelernt.