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Joe Biden realiza sua primeira visita ao México

Marcos Cordeiro Pires / Leonardo Martins de Assis | 21/01/2023 21:25 | Análises
IMG Fonte: https://twitter.com/POTUS/status/1612298126806712322

Depois de dois anos na Presidência dos Estados Unidos, Joe Biden realizou sua primeira visita à fronteira sul dos EstadosUnidos com o México no dia 8 de janeiro, em meio a uma série de polêmicas sobre as questões migratórias e o tráfico de entorpecentes no país.


Durante sua visita, o presidente inspecionou um ponto de acesso na cidade texana de El Paso, que ao final do ano passado declarou estado de emergência pelo grande número de imigrantes que, segundo o prefeito da cidade, estavam vivendo condições inseguras.


Os funcionários da alfândega e da imigração se reuniram com o presidente norte-americano durante sua visita pela Ponte das Américas em um complexo de prédios na fronteira EUA-México. Posteriormente, ao lado do Secretário do Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos, Alejandro Mayorkas, Biden assistiu a uma série de demonstrações das inspeções de segurança da fronteira, incluindo dos especialistas com cães farejadores.


A visita do presidente é considerada tardia pelos ativistas dos direitos dos imigrantes. Ela tenta demonstrar a preocupação de sua administração com a questão migratória do país, um dos principais pontos de atrito com a oposição republicana, mas que também tem gerado polêmicas e impasses dentro do próprio Partido Democrata. Ao se aproximar das forças de segurança da fronteira, Joe Biden busca amenizar as críticas acerca da leniência com a imigração ilegal, principalmente em estados como Texas, Novo México e Arizona. A visita ainda é vista como um meio para melhorar a sua imagem para a recandidatura em 2024.


Há de se considerar, entretanto, a recente eleição de Kevin McCarthy que ocorreu um dia antes da visita do presidente à fronteira. Depois de longas rodadas de votação, o líder republicano conseguiu votos suficientes para alcançar o cargo de presidente da Câmara dos Deputados. Esse provavelmente será um fator adverso para as futuras políticas do governo de Joe Biden, em especial as que se referem à questão migratória, particularmente com a dura resistência dos republicanos contra a imigração. Vale lembrar que umas das primeiras medidas da nova composição da Casa dos Representantes é a de pedir o impeachment do secretário Alejandro Mayorkas.


Após o fim da visita, o presidente norte-americano seguiu viagem para a Cidade do México, onde se encontrou com o presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador e o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, para a 10º Cúpula dos Líderes da América do Norte.

 

A Cúpula da América do Norte

Na terça-feira, dia 10 de janeiro, os três líderes da América do Norte se encontraram na Cidade do México. O encontro discutiu principalmente a competitividade comercial entre os países, as questões de desenvolvimento sustentável e mudanças climáticas, as pautas migratórias e a questão do tráfico de drogas.


Quanto à pauta ambiental, os três países concordaram em diminuir a emissão de metano até 2025 e o desperdício de alimentos, tornar os meios de transporte mais sustentáveis, utilizando ônibus elétricos, por exemplo, e aumentar as áreas de proteção oceânicas e terrestres em 30%, dialogando com as lideranças indígenas para auxiliar nessa proposta. Também discutiram questões relacionadas à justiça racial, equidade de gênero e proteção da comunidade LGBTQIA+, promovendo ações de combate à violência e discriminação.


Outro ponto que chamou atenção foi a questão da competitividade comercial e a tentativa estadunidense e canadense de não perderem espaço no mercado mexicano. A força comercial do bloco é tão grande que atingiu US$3 milhões por minuto em intercâmbios comerciais entre janeiro e outubro de 2022. Assim, a cúpula acontece em um momento tenso em relação à competitividade comercial dos três países.


Uma das questões centrais quanto à competitividade é a política energética do México. Essa política, adotada pelo presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, visa limitar a ação estrangeira no setor de energia do país de modo que prevaleçam as empresas nacionais, particularmente da PEMEX, a estatal de petróleo. Os líderes estadunidense e canadense consideram isso uma violação do tratado de livre comércio entre os três países, o T-MEC (ou USCAM, na sigla em inglês) que foi assinado em 2020, substituindo o antigo NAFTA. Quanto ao assunto, o chanceler mexicano, Marcelo Ebrard, disse que não será um tema relevante durante a cúpula por estar a caminho de ser solucionado pelas três autoridades.


Dessa forma, na impossibilidade de se atingir um consenso, os debates mais espinhosos da cúpula se concentraram nas questões da imigração e do tráfico de drogas, que têm gerado graves problemas aos estadunidenses e se tornaram polêmicas no país, fazendo com que muitos políticos tenham visto Joe Biden como o alvo e uma barreira para a solução dessas necessidades da sociedade.

 

A questão migratória

A questão de imigração se tornou um tópico sensível do governo do presidente Joe Biden, podendo atrapalhar sua imagem para reeleição. Nos últimos meses, o presidente vem tentando apresentar propostas e soluções para diminuir a crise. A visita à fronteira Estados Unidos-México foi uma tentativa de se mostrar preocupado e ativo com a questão migratória.


Poucos dias antes de visitar o México, Bidenanunciou a restrição de imigrantes ilegais oriundos de Cuba, Nicarágua e Haiti que entram nos Estados Unidos pela fronteira com o México. O país aceitará apenas 30 mil imigrantes por mês dos quatro países durante dois anos, oferecendo oportunidades de emprego regularizado desde que entrem de maneira legal. Uma medida parecida com a que foi aplicada em relação à Venezuela.


Apesar da tentativa de Joe Biden de se mostrar preocupado com a questão da imigração, há uma série de falhas na implementação da sua política. Em sua visita à fronteira sul dos Estados Unidos, nenhum imigrante participou das demonstrações de segurança e os repórteres que estavam no local também não avistaram nenhum imigrante no centro de descanso visitado por ele. Assim, fica evidente que sua rápida visita à fronteira tinha intuito apenas de melhorar sua imagem, não realmente se importando com o problema humanitário.


Durante as discussões da Cúpula dos Líderes da América do Norte, Estados Unidos, Canadá e México divulgaram uma série de medidas para combater a imigração ilegal. Entre elas, implementaram o Plano de Ação para Extensão e Desenvolvimento de Parcerias, que foi finalizado durante a cúpula, e são “medidas práticas que visam a promoção da coordenação e abordagem das causas fundamentais da migração irregular”. Ainda durante a cúpula, os países divulgaram plataformas e centros de apoio para os imigrantes.

 

A questão do tráfico de drogas

 

Outro tema quente da Cúpula foi a questão do tráfico de drogas. Ainda em 2022, os Estados Unidos tiveram uma elevação nonúmero de mortes por overdose, problema que vem se repetindo a anos. O número chegou a 100 mil pessoas e dois terços desse número foi causada por um medicamento da classe dos opióides, o fentanil. Esta droga é produzido com material pretensamente vindo da China e entra nos Estados Unidos por cartéis de narcotráfico do México.


A fim de combater a produção e o tráfico dessa droga, os três governos concordaram, de maneira trilateral durante a Cúpula, na colaboração referente ao Diálogo da América do Norte sobre Política de Drogas (NADD). Esse acordo busca desenvolver um modelo estratégico de combate às ameaças de drogas ilícitas e propostas de melhoramento no sistema de saúde em relação ao consumo de drogas. O diálogo também contempla a troca de informações sobre a produção e o tráfico de entorpecentes.


Outras discussões sobre segurança também marcaram a cúpula, principalmente no que se refere ao tráfico de pessoas e armas entre os três países. Para combater essas questões que geram insegurança, os líderes divulgaram um acordo de coleta e troca de informações obtidas pelos Registros de Nomes de Passageiros (RNP) na América do Norte.

 

Conclusão

A visita de Joe Biden à fronteira dos Estados Unidos com o México e sua posterior visita à capital do país, juntamente com o primeiro-ministro canadense, teve como principais focos os atuais problemas de sua gestão e do país que ele preside. Contudo, para aliviar a pressão que tem sofrido internamente, o presidente ainda percorrerá um longo caminho, tendo que lidar com diversas questões, principalmente a do poder legislativo estadunidense.


Além disso, é possível reparar o quão tardia foi a visita do presidente ao México, em uma evidente tentativa de amenizar as críticas que são feitas a sua gestão, especialmente em relação aos casos de imigração ilegal. A Cúpula entre os três líderes reforçou antigas promessas que aguardam um desfecho positivo. Enquanto isso, os problemas dentro do bloco norte-americano continuam sem solução à vista. Entre 2021 e 2022 os democratas tiveram maioria no Congresso e não conseguiram avançar em temas importantes, como a imigração, a economia verde e a pandemia de opioides. Agora, quando os republicanos conquistaram o comando da Casa do Representantes, o máximo que se pode esperar é a paralisia do país, visto que a situação e a oposição não tem força para efetivamente dar conta dos desafios enfrentados pelo povo estadunidense.

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