O plano de gastos sociais de US$ 1,8 trilhão do presidente Joe Biden ficou suspenso desde o mês passado, pois os democratas, em todos os níveis de poder, reconheceram o fato de que uma votação no Senado não era possível no prazo que haviam estabelecido para antes do Natal.

Segundo a publicação da US News, os democratas ainda precisam conquistar o apoio dos senadores Joe Manchin e Kyrsten Sinema para a aprovação do projeto. “Como eles tentarão aprovar o pacote da rede de seguridade social sob as regras de reconciliação orçamentária, os democratas podem avançar com apenas uma maioria simples — o que significa apoio universal de seu Caucus — em vez dos usuais 60 votos para superar os obstrucionistas”. Apesar da pressão para que os trabalhos fossem encerrados antes do Natal, a decisão de interrupção foi estratégica no sentido de os democratas buscarem neste mês o compromisso da oposição.

Com a recusa do senador Joe Manchin em apoiar o Build Back Better Act as hipóteses dos republicanos recuperarem o controle da Câmara dos Deputados e, possivelmente, também do Senado, parece provável.

“Se os democratas não conseguirem aprovar a legislação de assinatura de Biden, que inclui investimentos maciços em cuidados infantis, saúde e iniciativas climáticas, seu fracasso pode convencer eleitores suficientes a apoiar os republicanos em novembro. No entanto, se os democratas tentarem avançar com uma versão do projeto que Manchin apoia, como alguns estrategistas sugeriram, o produto final pode não ser tão atraente para os eleitores”, segundo a reportagem do “The Guardian”. 

Uma das iniciativas que parte do projeto mais amplo, buscaria tratar da exclusão social de milhões de imigrantes indocumentados no país. O tema da imigração é sensível aos democratas que, durante a campanha presidencial, prometeram abrir o caminho para a concessão de cidadania aos imigrantes. 

No entanto, segundo o artigo de opinião publicado pela Latino Rebels,  “a reforma da imigração, e não meras autorizações de trabalho temporárias, está atrasada, e é necessária para aqueles que vivem nas sombras enquanto trabalham no país como indocumentados. É essencial para viver o dia-a-dia sem medo e com dignidade. Também é urgentemente necessária como uma solução de longo prazo para a escassez de trabalhadores em meio a uma crise na cadeia de suprimentos, e para que os trabalhadores da agricultura, construção, trabalho fabril e outros trabalhos de alto risco não apenas tenham acesso a condições básicas de segurança no trabalho, proteção, cobertura básica de saúde e remuneração justa, mas também tenham um caminho para a residência legal”.

Ainda segundo a publicação, “a última vez que os EUA aprovaram qualquer forma de ajuda aos imigrantes foi há quase 36 anos — a Lei de Reforma e Controle da Imigração, assinada pelo presidente Reagan em novembro de 1986 — e essa reforma foi destinada aos latinos que atendiam a requisitos específicos”. 

“Trabalhadores migrantes indocumentados apoiaram os EUA em meio à escassez de trabalhadores durante a Segunda Guerra Mundial por meio do programa Bracero, que permitiu a entrada de centenas de milhares de trabalhadores manuais mexicanos todos os anos entre 1942 e 1964”.

Com base em um artigo produzido pelo Museu Oakland da Califórnia, a publicação informa que, em 1957, mais de 192.000 trabalhadores foram levados para a Califórnia e mais de 150.000 outros trabalhadores para outras partes do país. 

Segundo ainda o artigo de opinião, “o trabalho migrante indocumentado continua a apoiar os EUA até hoje, mais visível durante a atual pandemia de Covid-19, onde trabalhadores essenciais, muitos deles indocumentados, não são pagos o suficiente para arriscar suas vidas diariamente. O Congresso deve aprovar uma reforma completa da imigração não apenas para trabalhadores essenciais, como os da agricultura e da área médica, mas também para os da construção, indústria de alimentos e outros, todos cruciais para sustentar e até fortalecer a economia do país. Isso torna a reforma da imigração não apenas a coisa certa a fazer, mas a coisa prática e inteligente a ser feita”.

Apesar do atraso das negociações sobre o Build Back Better Act, os democratas ainda prometem encontrar uma maneira de criar um caminho para a cidadania para imigrantes no país ilegalmente como parte de seu plano de gastos sociais.