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Ataques aos programas de diversidade, equidade e inclusão nos EUA afetam populações latinas, pretas e LGBTQIA+

Leonardo Martins de Assis | 09/05/2024 18:11 | Análises
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Recentemente, a sigla “DEI” tomou conta de alguns debates e tornou-se alvo das críticas da extrema-direita e de grupos conservadores nos Estados Unidos. DEI é uma abreviação para Diversidade, Equidade e Inclusão, e refere-se a um conjunto de práticas, estratégias e objetivos que buscam promover um ambiente mais inclusivo e equitativo em diferentes esferas da sociedade.


Nesse sentido, a diversidade destacada na sigla é a representação de indivíduos de diferentes origens, identidades e experiências. Isso inclui, mas não se limita, à raça, etnia, gênero, orientação sexual, idade, habilidades físicas, religião e status socioeconômico. Esse conceito é valorizado porque traz uma variedade de perspectivas, ideias e experiências que podem enriquecer o ambiente de trabalho e o ensino superior.


A equidade, por outro lado, refere-se à garantia de que todos tenham acesso às mesmas oportunidades. Isso significa reconhecer que nem todos têm os mesmos acessos a bens materiais e culturais e, portanto, podem precisar de diferentes recursos ou apoio para alcançar maiores possibilidades. Já a inclusão é a prática de garantir que todos se sintam valorizados, respeitados e apoiados. Envolvendo a criação de um ambiente onde as pessoas possam participar plenamente e contribuir para o seu máximo potencial.


Algumas empresas vinculam as práticas DEI às suas estratégias de negócio. Isso pode ser aplicado na contratação e promoção de funcionários, além da adoção de políticas de acessibilidade. Também inclui a criação de grupos de apoio à diversidade e treinamentos para minimizar preconceitos inconscientes.


Segundo uma pesquisa do PewResearch Center, 61% dos adultos estadunidenses confirmam que seus locais de trabalho implementaram políticas DEI na contratação, promoção ou pagamento de salários. No contexto universitário, DEI pode incluir a admissão e suporte a estudantes de diversas origens, incorporando várias vozes e perspectivas no currículo, e estabelecendo um ambiente de campus inclusivo e acolhedor. Ou seja, isso pode se manifestar na oferta de bolsas de estudo para pessoas de baixa renda, a contratação de professores especializados e a criação de programas de apoio para estudantes de primeira geração.


Embora a DEI seja reconhecida como uma prática valiosa e necessária, ela tem sido objeto de críticas e resistência por políticos republicanos. Os críticos argumentam que as políticas de diversidade geram uma “discriminação reversa”, onde os integrantes de grupos historicamente privilegiados podem ser desfavorecidos. Outros afirmam que essas práticas seriam capazes de limitar a liberdade de expressão e forçariam as pessoas a aderir a certas normas e ideais. Além disso, há uma onda de políticas anti-DEI em algumas regiões dos Estados Unidos. Essas políticas, muitas vezes promulgadas ao nível estadual, buscam limitar ou proibir a implementação de práticas de DEI em várias instituições.


Três estados considerados politicamente conservadores, Flórida, Texas e Utah, já aprovaram proibições ao DEI no ensino superior e em cargos públicos. Após a proibição de gastos estaduais nesses programas, a Universidade da Flórida fechou o escritório de Diretor de Diversidade. Algo semelhante ocorreu na Universidade do Texas em Austin, onde a proibição obrigou o campus a parar de fornecer serviços aos estudantes.


As movimentações anti-DEI iniciaram a partir de manifestações de institutos e personalidades conservadoras. Ainda em julho de 2023, um membro do Manhattan Institute e ativista conservador, escreveu um artigo no The New York Times acusando os programas DEI de atrapalharam a educação liberal. Outras figuras conservadoras dos EUA também compartilharam opiniões semelhantes, como Ryan P. Williams, presidente do Insituto Claremont, e os investidores bilionários, Bill Ackman e Elon Musk.


A Flórida tornou-se o primeiro estado a proibir as políticas de diversidade, equidade e inclusão. Ainda em maio de 2023, o governador Ron DeSantis assinou uma legislação proibindo universidades e faculdades públicas financiarem programas de inclusão. Posteriormente, Texas, Carolina do Norte e Dakota do Norte aprovaram leis semelhantes e, em 2024, outros estados entraram na iniciativa, como Idaho, Utah, Wyoming e Alabama.


No Texas, em fevereiro de 2023, o governador Greg Abbott enviou uma carta às instituições alertando que as práticas DEI feriam algumas leis estaduais e federais. Em junho do mesmo ano, o governo sancionou a lei que proíbe as instituições de ensino a manter as práticas de inclusão e entrou em vigor a partir de 1º de janeiro de 2024.


Segundo informações da NBCNews, além desses três, outros vinte estados tiveram políticas anti-DEI apresentadas no âmbito legislativo e em mais 8 estados essas leis foram aprovadas em, pelo menos, uma câmara.


O impacto dessas políticas na população

As políticas anti-DEI, ao eliminarem programas de diversidade, equidade e inclusão, afetam diretamente comunidades marginalizadas, entre elas as populações negras, LGBTQIA+ e latinas. Segundo o Pew Research Center, os trabalhadores negros são mais propensos do que aqueles de outros grupos raciais e étnicos a dizer que seu empregador presta pouca atenção ao aumento da DEI. Resultando em ambientes de trabalho menos inclusivos e em oportunidades limitadas para avanço.


As comunidades LGBTQIA+ podem ter acesso limitado a recursos em universidades e empresas privadas. Com a implementação de leis anti-DEI, universidades públicas em alguns estados estão fechando e reestruturando centros que antes apoiavam explicitamente os estudantes LGBTQIA+, privando esses estudantes de recursos importantes e impedindo a criação de um ambiente mais acolhedor.


No entanto, é na população latina que as consequências dessas políticas se fazem sentir de forma mais acentuada. Embora haja um aumento nas matrículas de latinos em instituições de ensino superior, a conquista de diplomas universitários por esse grupo ainda não acompanha o ritmo dos estudantes brancos.


No Texas, por exemplo, a UT Austin só conseguiu matricular alunos de graduação hispânicos suficientes para se qualificar como uma Instituição de Serviço Hispânico (HSI) em 2021, 138 anos após sua fundação. Para ser um HSI, pelo menos 25% da população estudantil em tempo integral deve ser latina. No entanto, mais de 40% dos texanos são hispânicos, superando ligeiramente os brancos não latinos.


Programas e eventos foram eliminados, incluindo o fechamento do Centro de Engajamento Multicultural da UT Austin e a Graduação Latinx. “São ações política e ideologicamente motivadas”, disse Antonio Flores, presidente da Associação Hispânica de Faculdades e Universidades. Essas políticas estão eliminando ferramentas que ajudam os estudantes hispânicos a se matricular e se formar.


Assim, as políticas anti-DEI criam barreiras para as populações negras, LGBTQIA+ e latinas, limitando seu acesso a oportunidades e recursos. Contudo, apesar dos ataques constantes de grupos políticos, muitas instituições seguem comprometidas com a promoção da DEI. Eles estão buscando novas formas de promover a diversidade, a equidade e a inclusão apesar dos ataques ideológicos.


A nova decisão da Suprema Corte e seu efeito nas políticas DEI

Por fim, vale destacar a decisão da Suprema Corte sobre o caso Muldrow, realizada em abril de 2024. No evento em questão, Jatonya Clayborn Muldrow, sargenta da polícia em Saint Louis, no Missouri, entrou com uma ação contra a cidade sob a lei de direitos civis, alegando que foi vítima de discriminação ao ser transferida de cargo em favor de um homem.


Os tribunais inferiores não aceitaram a ação argumentando que, como ela não sofreu alteração de salário e nem teve danos significativos, não caberia uma reparação judicial. Contudo, na última decisão da Suprema Corte, eles entenderam que caberia, sim, reparação, bastando existir qualquer dano.


Essa decisão do poder judiciário norte-americano coloca as políticas DEI em uma situação ambígua. Alguns advogados avaliam que, apesar de a decisão estar correta, ela poderia contribuir para todos os que se sintam desrespeitados ou discriminados por políticas de inclusão aplicadas no mercado de trabalho, ou nas universidades. Colocando, assim, em risco essas práticas que já sofrem um forte ataque.


Os esforços para promover a Diversidade, Equidade e Inclusão, visando proporcionar mais oportunidades e um acesso justo às minorias, estão sendo questionados em todo o país, principalmente por legisladores republicanos e conservadores. Eles argumentam que tais programas são discriminatórios e tentam abordar a discriminação racial em detrimento de outros grupos desfavorecidos.

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