A vice-presidenta Kamala Harris parece estar procurando se aproximar mais da comunidade latina dos Estados Unidos após críticas quanto ao seu desempenho político.
Como
noticiamos no início deste mês, dois relatórios de pesquisa realizados recentemente, que buscavam medir a preferência política dos latinos no país, mostrou uma tendência de maior adesão política da comunidade latina ao Partido Republicano.
As pesquisas organizadas pelo “Equis Research” e “Way to Win”, ambos com tendência Democrata, apontaram que a questão econômica na vida dos latinos, principalmente no contexto de pandemia, é o assunto mais importante, substituindo o tema da imigração.
No entanto, a questão migratória também é uma questão permeada de crises na gestão Biden, demonstrando uma incapacidade dos democratas em avançar na reforma da imigração. A grande frustração em ambos os temas, econômico e migratório, tem contribuído para as críticas crescentes ao atual governo.
Para Kamala Harris em particular, algumas “gafes” políticas contribuíram para que muitos latinos não se sintam representados por ela. Em junho de 2021, Harris viajou até o México e Guatemala, a pedido de Biden, para enfrentar as causas da crise fronteiriça em conjunto aos líderes de El Salvador, Guatemala e Honduras, ou seja, o Triângulo Norte da América Central, região de onde vieram mais de 1,8 milhão de imigrantes e refugiados em 2021. O que causou grande constrangimento foi sua declaração naquele momento: “Quero ser clara às pessoas nesta região que estão pensando em realizar aquela perigosa jornada para a fronteira Estados Unidos-México: não venham”.
“De acordo com um funcionário da Casa Branca, Harris se encontrou com grupos latinos e de imigração cinco vezes ao longo do verão, inclusive no aniversário do tiroteio por crime de ódio em El Paso, com o presidente Joe Biden e líderes latinos de direitos civis. Ela falou sobre direitos de voto em uma conferência do Voto Latino em outubro, e esteve em eventos do Hispanic Heritage Month com líderes latinos de pequenas empresas no outono”,
segundo uma publicação.
A preocupação de Harris e dos Democratas pelo estreitamento de laços com a comunidade latina é uma questão estratégica caso Joe Biden decida não concorrer à reeleição em 2024. Além de contribuir com a adesão latina nas eleições de meio de mandato neste ano, sua imagem pode ser aprimorada até as próximas eleições presidenciais.
No entanto, a estratégia tem encontrado alguns outros obstáculos que danificam a confiança latina em Kamala Harris. Como
noticiamos anteriormente, Jamal Simmons, recentemente anunciado como o seu diretor de comunicações, precisou se desculpar por tweets ofensivos efetuados por ele há mais de 10 anos sobre “pessoas indocumentadas”.
Outro assunto importante colocando em xeque a confiança dos latinos na vice-presidenta, é a fraca representação latina na administração de seu governo. Ainda segundo a publicação, “os quatro senadores latinos americanos se reuniram em novembro para discutir o assunto. Bob Menendez (NJ), Ben Ray Lujan (NM), Catherine Cortez-Masto (NV) e Alex Padilla (CA) escreveram uma carta particular à Casa Branca solicitando maior representação latina no processo de contratação da Casa Branca. Segundo o site Politico, apesar de representarem 18,5% da população, os latinos representam apenas 10% da equipe da Casa Branca, comparado a 17% dos negros e 13,4% dos AAPIs” (asiáticos americanos e das ilhas do Pacífico, sigla em inglês).
Conforme o site de notícias Axios, após um ano de governo, Harris está procurando um agente democrata para preencher o novo cargo de comunicação em sua equipe, um canal voltado de forma específica para comunidade latina no país.
Um ex-assessor da vice-presidenta comentou que “sua equipe precisa tentar um esforço mais agressivo para garantir que ela fale sobre o que fez” [em toda a sua trajetória], considerando que “os latinos estão observando”, segundo a mencionada publicação.