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O debate eleitoral americano e o panorama do povo latino: uma corrida pela Casa Branca

Giovani Paschoalino de Souza Oliveira / João Marcelo Lopes Silva / Julia Aguiar Camacho | 02/10/2024 08:28 | Análises

No dia 10 de setembro de 2024, a emissora americana ABC News realizou o debate presidencial dos Estados Unidos, protagonizado pela atual Vice-Presidente Kamala Harris (Democrata) e pelo ex-Presidente Donald Trump (Republicano). O evento ocorreu de maneira acalorada, e, em meio a discursos desencontrados e evasão de perguntas, ambos os candidatos puderam apresentar seus planos na corrida pela Casa Branca.


O debate tratou de diversos temas como economia, direitos das mulheres, a invasão do Capitólio em 2021 e política externa, gerando momentos de reflexão para o telespectador latino, tanto no quesito político, quanto no ideológico. No entanto, as perguntas feitas pelos âncoras da ABC News quase sempre acabavam na discussão sobre a imigração no país, tanto nas manobras evasivas de Trump a algumas perguntas, quanto nas tentativas de Harris de alertar a população sobre a ideologia de seu concorrente. Isso levanta o questionamento: para o povo latino que irá às urnas no dia 5 de novembro, qual deve ser a expectativa para os anos futuros?


Antes de destacar o debate, é importante evidenciar o contexto latino na conjuntura eleitoral americana, que, em eleições passadas, favoreceu o lado democrata. Com um aumento recorde no número de eleitores latinos nos Estados Unidos, um crescimento de 153%, os eleitores latinos agora compõem 15% do eleitorado americano. Contudo, o que normalmente seria um ponto positivo para o partido democrata se tornou um fator de risco. Isso porque, nos últimos anos, a intenção de voto latina vem cada vez mais explorando o lado republicano. Mesmo com o aumento da intenção de voto latina no partido republicano, as pesquisas ainda apontam Harris como a favorita entre os latinos nos Estados Unidos, um fator que pode mudar até o dia da eleição.


Kamala Harris abriu o debate com uma resposta convincente sobre o tema da economia e do custo de vida nos Estados Unidos. A candidata, que pode ser a primeira mulher a vencer as eleições americanas, trouxe ao debate seu plano de transformar a economia em uma “economia de oportunidades”, que traria aos trabalhadores da classe média e às microempresas uma redução significativa nos impostos. Harris ainda questionou o projeto econômico de Trump, que visava a diminuição de impostos para milionários, e poderia aumentar o custo de vida da população em até 4 mil dólares por ano. Além disso, a candidata discutiu sobre aborto e direitos das mulheres, além de responder questionamentos sobre a invasão do Capitólio em 2021, demonstrando uma postura assertiva e reiterando seu apoio à liberdade, mesmo em meio aos pronunciamentos de Trump, que, segundo ela, faziam uso de mentiras e acusações. A democrata ainda afirmou, no tópico da invasão ao Capitólio em janeiro de 2021, que o então presidente Donald Trump havia incitado e fomentado a rebelião puramente por não aceitar sua derrota nas eleições.


Harris também se defendeu de acusações proferidas por Trump contra sua pessoa e seu partido, principalmente no âmbito da política externa. O ex-presidente criticou duramente as ações da atual vice-presidente em sua gestão, questionando seu plano de governo e atribuindo a responsabilidade de conflitos, como a guerra na Ucrânia, ao que ele chamou de “incompetência e fraqueza do governo Biden”. Ainda no tópico de conflitos externos, Donald Trump afirmou que o conflito Israel-Palestina não existiria caso ele fosse presidente e acusou Harris de “odiar árabes”.


Do outro lado, ao iniciar a primeira rodada do debate, Donald Trump abordou o assunto que seria discutido durante todo o evento – a onda de imigração. Trump fez diversas declarações ideológicas preocupantes para o povo latino acerca do tema, culpando o declínio da economia americana pelo fato de que, segundo ele, “milhões de imigrantes invadem o país todo mês”.


Oficialmente no tópico de imigração, Harris iniciou a discussão dizendo que não mediu esforços para processar organizações criminosas transnacionais envolvidas no tráfico de armas, drogas e seres humanos, e acusou Trump de não colocar o cidadão americano como prioridade. Além disso, disse ter apoiado um projeto de lei de segurança de fronteiras com 1.500 oficiais e que investiria em mais mão de obra para reforçar a segurança, auxiliando na contenção do fluxo de fentanil entrando nos Estados Unidos. Nesse sentido, acusou seu adversário de ter utilizado conexões no Congresso para impedir a aprovação do projeto.


Trump mudou o rumo do debate acusando, novamente, os democratas de deixarem milhões de pessoas entrarem nas cidades americanas e citou Springfield, onde, supostamente, os imigrantes estariam comendo animais domésticos, como cachorros e gatos dos cidadãos. Ele afirmou que, se Kamala fosse eleita presidente, os EUA acabariam como a Venezuela. Quando confrontado pelos apresentadores – já que dados do FBI mostram que a criminalidade nos EUA está em baixa – Trump se esquivou, alegando que a instituição mente por fins ideológicos. Harris, diante das colocações no mesmo tópico, manteve-se estável frente às acusações de Trump, e rebateu insinuando que o candidato não está conseguindo manter o apoio dentro do próprio partido, além de ter “sido demitido” nas últimas eleições do país.


Portanto, ao analisar o debate, destacam-se as posições mais radicais de Donald Trump ao tratar de grande parte dos temas, adotando uma postura mais defensiva quando questionado nos diversos tópicos abordados. O ex-presidente buscou em suas propostas passadas forças e argumentos para se reeleger em 2025, repetindo o bordão “Make America Great Again” várias vezes, como em anos anteriores. Durante seu tempo de fala, Trump também tentou deslegitimar o projeto de governo de Kamala Harris, comparando-a repetidamente a Joe Biden, com fins provocativos, mas ouviu como resposta da democrata: “Não sou Joe Biden e certamente não sou Donald Trump”, e que “o povo americano precisa virar a página”. Harris soube aproveitar bem suas chances de fala no debate, expressando-se de maneira calma e voltada ao telespectador. Ela deixou evidente sua preocupação com o custo de vida da classe média e trabalhadora americana, composta em grande parte por latinos. Além disso, a atual vice-presidente se comprometeu a organizar um sistema de saúde que priorize os menos privilegiados.


Apesar de o povo latino não ter sido diretamente mencionado no debate, os pensamentos dos candidatos sobre políticas nacionais que podem favorecer essa comunidade ficaram implícitos.


A partir dessa análise, é possível traçar dois cenários para o resultado das eleições americanas de 2024.


Em primeiro lugar, Kamala Harris, que apresentou suas propostas priorizando as classes mais baixas e pequenas empresas, além de se aproximar do eleitorado jovem com posicionamentos sobre a agenda ambientalista e a crise no Oriente Médio, assuntos populares entre as novas gerações. Nesse contexto, o histórico de voto latino no partido democrata parece ser uma opção favorável, visto que a proposta política da atual vice-presidente enfatizou pontos de interesse para a comunidade latina.


Em segundo lugar, Donald Trump não apresentou suas propostas de forma objetiva, desviando-se das perguntas feitas pelos apresentadores e focando em debates mais ideológicos. O candidato também manteve suas colocações de maneira expansiva ao se confrontar com sua adversária e acusou os imigrantes de serem responsáveis pela decadência americana. Nesse sentido, o ex-presidente busca conquistar diferentes comunidades latinas por meio de discursos pautados no “medo do comunismo”, e no fato de que jovens, principalmente latinos, se identificam com o candidato republicano devido ao seu apelo à masculinidade. Partindo desse ponto de vista, o voto no candidato republicano significaria a volta dos Estados Unidos ao ambiente hostil e xenofóbico de 2016, com políticas anti-imigração e a falta de investimento no desenvolvimento de setores que abrangem a comunidade latina.

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