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A violência armada como importante questão de voto para eleitores hispânicos e latinos em 2024

Gabriel Carvalho Fogaça | 28/10/2024 13:04 | Análises
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A violência armada se tornou uma das principais preocupações dos eleitoreshispânicos e latinos nos Estados Unidos para as eleições de 2024. Diversos dados, como os apontados pelo Center for American Progress, demonstram que a população em questão sofre ataques de maneira desproporcional a outros grupos étnicos, seja por maiores índices de tiroteios direcionados, como os casos de El Paso em 2019, e Uvalde em 2022, ou por possuírem o dobro de chance de morrer por armas em determinados estados quando comparadas à população branca.


Justamente por essa realidade afetada pela brutalidade, muitos indivíduos apoiam o controle de armas, como os 68% de adultos hispânicos que apoiam o endurecimento das leis sobre armas para proteger suas comunidades. Apesar disso, em meio a essa discussão, uma necessidade se destaca: mesmo com grande parte desejando tal endurecimento, muitos latinos se sentem impelidos a adquirir armas pensando na autodefesa.


É a partir dessa problemática que o ativista Philip Gomez fundou o Latin Rifle Association, uma organização sem fins lucrativos que tem em vista defender os direitos das armas a partir de uma perspectiva latina e, ao mesmo tempo, colocar em pauta as necessidades de um nicho tão afetado por esses danos.


Sob essa ótica, é razoável considerar que nas próximas eleições candidatos terão que enfrentar essas demandas dos eleitores latinos, especialmente entre os mais jovens, que entendem a violência armada como uma questão urgente.

 

Casos de brutalidade contra latinos nos EUA: El Paso em 2019 e Uvalde em 2022

Os massacres contra latinos nos Estados Unidos são pontos de alerta para a violência motivada por ódio racial, sobretudo quando as vítimas são alvejadas mediante utilização de armas. Dois dos incidentes mais marcantes envolvendo ataques deliberados contra essa comunidade são o tiroteio em massa no Walmart em El Paso, Texas, em 2019, e o ataque à escola primária em Uvalde, Texas, em 2022.


No primeiro caso, que ocorreu em 3 de agosto de 2019, Patrick Crusius abriu fogo em uma loja do Walmart em El Paso, Texas, matando 23 pessoas e ferindo várias outras. Segundo a CNN, o ataque foi motivado por uma ideologia supremacista branca, com o atirador confessando que o objetivo era matar mexicanos.


Antes do ataque, Crusius havia publicado um manifesto online, no qual expressava uma retórica xenofóbica, associando a imigração de latinos a uma "invasão" cultural e racial dos EUA. O ataque de El Paso foi um dos mais letais dirigidos especificamente contra latinos na história moderna dos EUA, deixando uma ferida psicológica duradoura na comunidade local e nas famílias das vítimas.


O segundo episódio de violência que afetou a comunidade latina foi o massacre na escola Robb Elementary, em Uvalde, Texas, em 2022. Aqui, a maioria das vítimas eram crianças latinas, alvejadas por Salvador Ramos, de 18 anos, que entrou armado na escola e matou 19 crianças e 2 professores. Esse caso se tornou o de tiroteio escolar mais mortal na história do Texas.


A violência armada contra latinos explicada numericamente e pela geografia dos EUA


Os massacres supracitados contra latinos retratam apenas uma parcela dos tipos de ocorrências que o público enfrenta. Porém, o que se torna notório na análise do uso de armas é a geografia em que ambas situações ocorreram: no estado do Texas.


Isso não é coincidência a partir da análise do Center for American Progress, já que é possível perceber um agravamento dos índices de homicídio por arma de fogo a depender do estado norte-americano analisado — as leis internas de cada local do território diferem entre si e, inevitavelmente, incidem em maior ou menor grau sobre esse mal-estar. Então, lugares como Arizona, Texas e Flórida, exemplificam como há correlação entre leis fracas de controle de armas e o aumento das taxas de homicídios.


Como primeiro exemplo, o Texas, onde os latinos constituem mais de 40% da população, é um estado em que eles têm o dobro de chance de morrer por violência armada em comparação a pessoas brancas. Ademais, a recorrência de massacres direcionados a esse público são fortes indicativos de que as leis locais não são fortes o suficiente para prevenir os ataques, deixando muitas pessoas à mercê de atrocidades.


Ainda, um latino que vive no estado tem quase três vezes mais chances de morrer porarma de fogo do que alguém que vive em Nova York e mais de duas vezes mais do que um residente de Nova Jersey. Entre os jovens, os números são ainda mais alarmantes: de 2019 a 2020, a taxa de homicídios com armas de fogo entre jovens hispânicos no Texas subiu 37,5%.


Já o Arizona, como segundo exemplo, tem a maior taxa de homicídios por armas de fogo entre jovens hispânicos, sendo um número triplamente maior comparado ao dos jovens brancos não hispânicos. Também, esse público tem quatro vezes mais chances de morrer por arma de fogo do que os residentes hispânicos de Nova York e quase o dobro da probabilidade em comparação a um hispânico na Califórnia.


Por fim, jovens hispânicos na Flórida, de 2019 a 2020, observaram taxas de homicídios por armas de fogo entre indivíduos de até 24 anos aumentaram 42,3%,  tornando essa parcela duas vezes mais propensos a morrer por homicídios com armas de fogo do que os brancos da mesma faixa etária.


Pensando nisso, a análise do Center for American Progress sugere que as leis sobre armas de fogo na Flórida afetam desproporcionalmente comunidades minoritárias, como a negra e a latina. Isso se deve especialmente ao fato de que, cinco anos após a aprovação da lei Stand Your Ground no estado, que permite a defesa armada sem a necessidade de recuo, a taxa de homicídios por armas de fogo entre homens hispânicos aumentou 27,9%.


Portanto, pensando de forma mais ampla, isso demonstra que decisões e falhas políticas, em vez de proteger essas populações, colocam-nas em risco e facilitam o agravamento de seus índices.

 

Os impactos psicossociais nos latinos e a necessidade de mudança

 

A partir do exposto, torna-se nítido que a mortalidade de latinos afetados pela violência armada, sendo a mais expressiva entre os grupos étnicos, não pode ser ignorada. Os altos números de violência contra os latinos justificam a sensação disseminada de insegurança, até mesmo a aquisição de armas para a autodefesa ou a criação de organizações, como o Latin Rifle Association, a fim de defender os interesses latinos sobre a posse de armas.


Frente à brutalidade, 71% dos eleitores latinos relatam temer por sua "segurançapessoal em tiroteios em massa em locais públicos", já outros 53% dos eleitores se sentem "muito preocupados" com a violência armada em suas comunidades. Assim sendo, o mínimo que esse grupo espera é melhorias.


O Instituto Giffords Law Center elencou diversas políticas que podem proteger os latinos da violência armada, como a implementação de verificações universais de antecedentes, leis de risco extremo e o apoio financeiro a estratégias comunitárias de intervenção contra a violência. Essas comunidades estão no centro da crise de violência armada, e é urgente aplicar essas soluções que salvam vidas.


Enquanto os hispânicos estão exigindo ações para aprovar medidas de prevenção à violência armada e expressando preocupação com a segurança de suas comunidades, as autoridades eleitas estão falhando em ouvir; muitos aprovaram políticas que colocam as comunidades hispânicas em risco ainda maior de violência armada. As soluções existem, e as comunidades hispânicas têm sido claras sobre o quanto valorizam a segurança pública. É hora de os formuladores de políticas agirem.


Portanto, nas eleições de 2024, candidatos que ignorarem a urgência dessa questão arriscam perder o apoio de uma crescente base de eleitores latinos, que estão se organizando para exigir mudanças que possam proteger suas comunidades dessa epidemia de violência.

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