Como divulgado recentemente, os Estados Unidos possuem um “novo” presidente eleito, Donald Trump. Este triunfo marca uma nova era em relação ao voto latino, que historicamente favorecia o Partido Democrata, mas demonstrou uma inclinação para os republicanos. Nesta eleição, 37% dos eleitores latinos optaram por Trump, um aumento considerável em relação às eleições anteriores. Além do histórico debate sobre imigração, a inflação e os preços elevados dos imóveis emergiram como preocupações centrais para essas comunidades, temas que Trump mais explorou durante sua campanha.
Além disso, a divisão de prioridades entre homens e mulheres latinas também desempenhou um papel crucial. A participação feminina frequentemente inclinou-se mais aos democratas, enquanto os homens latinos mais jovens apresentaram tendências ligeiramente maiores a votar nos republicanos em relação a ciclos anteriores.
Essas variáveis indicam que o voto
latino está longe de ser monolítico e vem se tornando cada vez mais disputado
entre os partidos. Seguindo o questionamento apresentado na última análise,
podemos refletir: quais são as considerações a serem feitas sobre o voto latino
em outros grandes centros urbanos dos Estados Unidos, além de cidades como
Houston e Miami, que foram abordadas previamente?
Filadélfia
Com pouco mais de 1,5 milhão de habitantes, a cidade da Filadélfia está localizada no estado-pêndulo da Pensilvânia, que teve apenas 28% dos votos latinos conquistados pelo candidato republicano Donald Trump nas eleições presidenciais americanas de 2024, com uma parcial de quase o triplo de votos indo para a então candidata democrata Kamala Harris. O estado da Pensilvânia teve seu histórico de indecisão visto nos resultados das últimas eleições no país - quando Biden venceu no estado em 2020 por 1,2% de vantagem, e quando Trump venceu no estado em 2016 por 0,72% de vantagem - ser completamente contrariado, o que mostra o interesse dos partidos em cortejar o eleitorado local.
A eleição presidencial de 2024 revelou dinâmicas complexas no voto urbano, especialmente na Filadélfia, a maior cidade da Pensilvânia. Com um comparecimento de 708.000 eleitores, a cidade manteve padrões similares aos de 2016, embora tenha ficado aquém do pico de 2020, quando 750.000 eleitores participaram, garantindo a vitória de Joe Biden. Essa retração no engajamento, embora modesta, é um reflexo de tendências nacionais, marcadas por desconfiança e saturação política.
Kamala Harris, a candidata democrata, consolidou uma vitória significativa ao conquistar 61 das 66 alas da cidade, somando cerca de 550.000 votos. Donald Trump, embora derrotado, demonstrou um avanço estratégico, conquistando 5 alas e 140.000 votos, 10.000 a mais do que em 2020. Além disso, aumentou sua presença territorial ao capturar duas alas adicionais em comparação com o pleito anterior. Essa evolução republicana reflete um padrão de crescimento incremental em áreas urbanas, ainda que insuficiente para reverter o domínio democrata. Na Filadélfia, essa base de apoio mais robusta para Trump ocorreu em distritos com maior preocupação econômica, tema central para os eleitores em 2024.
Mesmo assim, o descontentamento de alguns latinos com as propostas e gestão democratas ainda pôde ser documentado. Miguel Garcia, que mora no norte da cidade da Filadélfia, descreve que famílias hispânicas estão passando por dificuldades financeiras, o que justificaria o voto em Trump como uma tentativa de buscar melhores condições econômicas em comparação à gestão democrata. Porém, isso não foi suficiente para angariar uma quantidade maior de votos em comparação com 2020, quando o candidato republicano recebeu 27% dos votos de eleitores hispânicos/latinos.
"Alguns políticos podem apelar para nossos medos,
enquanto outros podem apelar para nossas esperanças e aspirações",
descreve Rafael Damast, eleitor democrata também em entrevista para a CBS News.
Afirmação esta que descreve como Harris e Trump tentaram convencer o eleitorado
na cidade da Filadélfia.
Com o processo eleitoral deste ano devidamente encerrado, fica claro como as
investidas de campanha do agora presidente eleito Donald Trump não conseguiram
se sobrepor à campanha e à adesão de Kamala Harris na Filadélfia.
Phoenix
A cidade de Phoenix, capital e maior metrópole do Arizona, destaca-se pela densidade populacional e pela relevância econômica e política. Com uma população superior a 1,6 milhão de habitantes, Phoenix representa cerca de 22% da população do estado, conforme o Censo de2020.
Deste total, mais de 600 mil pessoas
são de origem latina, evidenciando a importância desse grupo na dinâmica social
e política da região. Além disso, a cidade possui um PIB de aproximadamente US$
322 bilhões, consolidando-se como um dos grandes centros urbanos dos EstadosUnidos. O condado de Maricopa, onde
Phoenix está localizada, é o mais populoso do estado, com 4,5 milhões de
habitantes, tendo registrado um crescimento populacional de 14% na última
década. Dentro desse contingente, quase 1,5 milhão de pessoas são de origem latina,
o que torna o eleitorado latino um elemento decisivo nas disputas políticas da região.
As eleições de 2024 no Arizona evidenciaram um panorama político complexo, especialmente no condado de Maricopa, o maior e mais influente do estado. A vitória de Donald Trump no condado, com uma margem apertada de dois pontos percentuais, contrasta com a tendência histórica de Maricopa como um campo de disputa acirrada, onde os democratas vinham ganhando terreno desde 2018. Essa mudança, embora significativa, deve ser interpretada com cautela, particularmente em relação ao comportamento do eleitorado latino.
Latinos compõem cerca de 31% da população do Arizona e foram responsáveis por uma parcela significativa do eleitorado em 2024. Contudo, as alegações de que este grupo teria impulsionado a vitória de Trump no condado não são sustentadas pelos dados. Segundo a UnidosUS, 58% dos latinos no Arizona votaram em Kamala Harris, enquanto 41% apoiaram Trump. Essa margem, embora menor do que em 2020, ainda reflete um favoritismo democrático entre latinos, especialmente em áreas urbanas e suburbanas como Maricopa. A análise dos votos no condado revela uma divisão interessante: latinos que votaram antecipadamente tenderam a apoiar os democratas, refletindo preocupações históricas com políticas migratórias e sociais progressistas, e latinos que entregaram cédulas no dia da eleição ou depois demonstraram maior inclinação pelos republicanos, sinalizando que questões econômicas, como a inflação e o custo de vida, tiveram um impacto significativo nesse subgrupo.
Já nos condados fronteiriços de Santa Cruz e Yuma, a dinâmica do voto latino foi ainda mais intrigante. Em Santa Cruz, onde 85% da população é hispânica, o apoio a Trump subiu de 31,7% em 2020 para 40,4% em 2024. Ainda assim, os democratas mantiveram uma vantagem significativa. Já em Yuma, um condado com 60% de população latina, o percentual de Trump cresceu de 52% para 65% no mesmo período, evidenciando uma mudança mais pronunciada. Esse avanço republicano pode ser atribuído a uma combinação de preocupações econômicas e políticas migratórias, temas de alta relevância em regiões fronteiriças.
O tema econômico foi central para os eleitores latinos em todo o estado, isso pois 51% dos latinos no Arizona destacaram a inflação como sua principal preocupação, seguidos por 37% mencionando empregos e economia. Essas questões foram especialmente relevantes entre homens latinos jovens, que apresentaram maior propensão a votar nos republicanos, em contraste com as mulheres latinas, que permaneceram amplamente alinhadas com os democratas.