É grave a crise humanitária e de segurança que afeta o Haiti, principalmente na cidade de Cap-Haïtien, que atualmente abriga o único aeroporto do país aberto para voos comerciais internacionais.
A cidade enfrenta desafios extremos, agravados pela violência de gangues, deslocamentos internos em massa e uma infraestrutura em colapso. Segundo o Miami Herald, recentemente, um voo de deportação organizado pelos Estados Unidos levou 70 haitianos de volta ao país, desencadeando críticas intensas de defensores dos direitos humanos e autoridades locais, que argumentam que a situação no Haiti é incapaz de suportar o retorno de migrantes em condições tão precárias.
A violência de gangues no Haiti é um elemento central da crise. Em Porto Príncipe, ataques armados resultaram no fechamento do aeroporto principal e no isolamento quase completo da capital, onde apenas 20% das áreas são acessíveis devido ao domínio das gangues. Esse cenário levou a ONU a alertar sobre uma catástrofe humanitária crescente, com mais de 700 mil deslocados internos e níveis alarmantes de violência sexual usada como arma de controle. Ao mesmo tempo, a infraestrutura nacional sofre com estradas bloqueadas por gangues e danificadas por deslizamentos de terra, exacerbando o isolamento de várias regiões, ainda segundo a publicação.
Em Cap-Haïtien, a chegada de deportados dos EUA e de migrantes expulsos da República Dominicana sobrecarrega ainda mais uma cidade já à beira do colapso. A prefeita Yvrose Pierre destacou que a cidade não tem recursos para atender às necessidades básicas desses migrantes, que frequentemente enfrentam falta de abrigo, alimentos e acesso a cuidados médicos. Ela também alertou sobre a necessidade de assistência financeira e declarou que o governo central deveria expandir o estado de emergência para além de Porto Príncipe, considerando o aumento da pressão sobre Cap-Haïtien.
Enquanto isso, a política de deportações dos EUA sob a administração Biden tem gerado controvérsias. Embora o governo americano tenha alegado que monitora a situação no Haiti e segue as leis de imigração, críticos argumentam que essas ações são insensíveis diante da crise multifacetada que o país enfrenta. Organizações como a ONU e a Haitian Bridge Alliance classificam as deportações como violações dos direitos humanos, dado o nível extremo de insegurança e a incapacidade do Haiti de absorver esses indivíduos em meio ao caos.
A República Dominicana também desempenha um papel significativo na crise migratória, com a expulsão de quase 50 mil haitianos em apenas dois meses. Esses migrantes, muitas vezes em condições vulneráveis e sem documentação, chegam ao Haiti em busca de ajuda que o país não tem capacidade de oferecer, agravando a instabilidade em regiões já sobrecarregadas.
A matéria ressalta a falta de apoio
internacional suficiente para mitigar a crise no Haiti. Agências da ONU
enfrentam déficits de financiamento, enquanto trabalhadores humanitários têm
dificuldade para acessar áreas afetadas. Especialistas e líderes locais apelam
por uma suspensão imediata das deportações, argumentando que essas ações apenas
aprofundam a catástrofe humanitária e de direitos humanos. A situação em
Cap-Haïtien, apresentada como um microcosmo da crise nacional, reflete a
urgência de uma intervenção coordenada e robusta para evitar o colapso total do
país.