As primárias de 1º de março mostraram que o Partido Republicano conseguiu forte avanço nos condados fronteiriços mais ao sul no estado do Texas, demonstrando que o impressionante apoio de latinos a Trump nas eleições de 2020 não foi resultado de uma anomalia conjuntural. Os republicanos há muito argumentam que essa realidade se trata do início de uma tendência maior e os resultados primários na noite de terça-feira, dia 1º de março, parecem comprovar tal afirmação.
Os resultados demonstram que poderão ser indicados até oito latinos republicanos, incluindo seis mulheres, para as cadeiras no Congresso em todo o Texas. Só no Vale do Rio Grande, pelo menos duas latinas levarão o aval do Partido Republicano: Mayra Flores, uma das três mulheres hispânicas no Vale do Rio Grande a terminar em primeiro lugar na terça-feira e que ganhou a indicação do Partido Republicano por seu assento no Congresso no sul do Texas; Monica De La Cruz, candidata endossada por Trump que também venceu sua primária, e Cassy Garcia, ex-assessora do senador Ted Cruz (R-Texas), que estava na liderança, indo para um segundo turno em maio. Atualmente, o assento do 28º Distrito é ocupado pelo deputado democrata Henry Cuellar.
Segundo publicação de “
The Politico”, “se algumas delas vencerem em novembro, serão as primeiras mulheres hispânicas – e primeiras republicanas – a ocupar uma cadeira no Congresso no sul do Texas”.
Essa “novidade” foi impulsionada por mudanças demográficas dramáticas no Texas, onde a população cresceu mais que o dobro da média nacional nos últimos 20 anos, e os descendentes de latino-americanos respondem por 60% desse crescimento. Como já
observamos anteriormente, os eleitores latinos, considerados um eleitorado-chave do Partido Democrata, estão mostrando uma maior disposição de votar nos republicanos, mesmo nos condados mais ao sul do Texas ao longo da fronteira com o México.
“Nos quatro condados mais ao sul do Texas, onde os latinos representam mais de 90% da população total, os republicanos receberam uma parcela maior do voto nas primárias em comparação com 2018, a última eleição de meio de mandato. No condado de Cameron, em Brownsville, os votos do GOP representaram 35% da participação total, em comparação com 23% em 2018. No condado de Willacy, menor, os votos do GOP saltaram para 26% da parcela de votos, de 8% em 2018. No condado de Hidalgo, os votos republicanos representaram 29% do total de votos, contra 17% em 2018”, segundo a publicação mencionada
Donald Trump, o então candidato presidencial republicano em 2016, recebeu menos de 28% dos votos no condado de Hidalgo, o mais populoso dos condados fronteiriços do Texas e onde os latinos representam 93% da população. Já na sua candidatura à reeleição, em 2020, Trump obteve quase 41% dos votos. Na maior cidade do condado de Hidalgo, McAllen, o primeiro prefeito republicano foi eleito em 24 anos.
Segundo publicação do
Voice of America (VOA) “esses resultados podem servir como um sinal de alerta para os democratas antes das eleições de meio de mandato de novembro, que determinarão o controle do Congresso nos dois últimos anos do atual mandato do presidente Joe Biden”.
“Com o Partido Republicano continuando a injetar dinheiro no sul do Texas e mais republicanos hispânicos, particularmente mulheres, concorrendo a cargos, há sinais de que o tradicional equilíbrio de poder no antigo reduto democrata está começando a mudar”, observa a publicação de Político.
Os ganhos do Partido Republicano com os hispânicos do Texas ainda não indicam uma ameaça à vantagem democrata na região, pois estes ainda receberam uma forte maioria dos votos primários na terça-feira. No entanto, como parte do debate político central, ao menos nos últimos dois anos, estrategistas, pesquisadores e lideranças democratas reconhecem que os números são preocupantes e que o partido precisa estar mais atento ao Vale do Rio Grande e arredores, pois os resultados das primárias do Texas não devem ser usados para prognosticar as perspectivas nacionais dos democratas.
Manuel Medina, presidente estadual do Tejano Democrats, ala latina do Partido Democrata do Texas, disse à publicação do “VOA” que os democratas do Texas “não estão de braços cruzados”. Disse ainda que “os democratas escolheram quatro mulheres latinas para concorrer a assentos democratas confiáveis na Câmara Estadual do Texas nas eleições primárias de terça-feira. [...] que também estava feliz em ver mais envolvimento hispânico no Partido Republicano”.
Por outro lado, Leslie Sanchez, estrategista republicana há anos e autora do livro “Los Republicanos: Why Hispanics and Republicans Need Each Other” (Los Republicanos: Por que os hispânicos e os republicanos precisam um do outro) disse ao Politico que os resultados primários demostram que “não é um caso único que estava diretamente ligado a Trump, mas um movimento maior de eleitores hispânicos, principalmente à medida que saem de algumas dessas áreas urbanas, que estão começando a votar mais como seus vizinhos em áreas mais conservadoras”.
Segundo o
The New York Times, os republicanos de todo o país continuam a explorar o medo de que os democratas (ou sua ala mais progressista) estejam não somente atacando os valores religiosos, como querem substituir a cultura americana branca tradicional pelo multiculturalismo não-branco. A diferença na adesão de latinos entre os dois partidos estaria no tipo de cultura que se acredita estar sob ataque. Já no tema da imigração, “a retórica anti-imigrantes da era Trump, de ser duro na fronteira e construir o muro, não repeliu os eleitores do Partido Republicano nem os atingiu como fanatismo anti-hispânico. Em vez disso, os atraiu”.
Os resultados das primárias podem indicar que os hispânicos do Texas – que incluem 2,5 milhões de imigrantes do México, quase 500.000 da América Central e 170.000 da América do Sul – estão mais engajados nos assuntos políticos e não podem ser concebidos como uma massa homogênea em seus ideais.
De acordo com Hector de Leon, um antigo organizador político e blogueiro em Houston, as expectativas de uma onda de apoio democrata em meio ao boom populacional do Texas foram baseadas, em parte, em suposições incorretas do Comitê Nacional Democrata de que os eleitores não brancos votariam naturalmente em seu partido, segundo a publicação de VOA.
Essas suposições levaram à especulação, já em 2016, de que talvez Hillary Clinton, a candidata presidencial democrata naquele ano, pudesse vencer no Texas, mas ela perdeu o estado para Donald Trump por uma diferença de nove pontos percentuais.