“Os hispânicos não são o futuro. Eles já são o presente do catolicismo americano”. É o que acredita Dom Mario Dorsonville, bispo auxiliar de Washington, DC, e presidente do Comitê de Migração da “United States Conference of Catholic Bishops – USBCC (“
Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos”).
“Dom Dorsonville, colombiano de nascimento e cardeal nos Estados Unidos desde 1990, conhece bem os desafios e dificuldades das comunidades católicas hispânicas. Ele testemunhou as mudanças pelas quais o catolicismo norte-americano passou nas últimas décadas. Essas transformações – às vezes silenciosas, às vezes discretas, mas irreversíveis – andaram de mãos dadas com uma crescente presença hispânica/latina nas comunidades eclesiais de todo o país”, segundo consta no “
Aleteia”.
Segundo o bispo Dom Dorsonville, “esta presença não é uma novidade. Ao contrário, faz parte da identidade americana desde o início da história colonial do país. Esta é uma realidade que deve ser enfrentada com o espírito de integração que caracteriza a Igreja universal, apoiando as suas forças e promovendo a unidade e a pertença ao país de acolhimento”.
O bispo concedeu uma entrevista à “Aleteia” (plataforma internacional de orientação católica), no contexto do próximo Congresso do Ministério Hispânico “Raíces y Alas” (“Raízes e Asas”), a ser realizado em Washington, DC, de 24 a 30 de abril do presente ano. Dom Dorsonville liderará um dos atos centrais do congresso, que consistirá em uma petição formal aos senadores no Capitólio pela reforma da imigração e por uma resolução a favor da concessão de cidadania aos imigrantes do “Deferred Action for Childhood Arrivals” (DACA).
Em relação ao tema da integração da comunidade latina à sociedade americana, e o papel da Igreja, Dom Dorsonville disse na entrevista que “Os bispos escreveram uma carta há 25 ou 30 anos chamada Strangers No Longer. Nela expressaram apreço pelo fato de os latinos aparecerem na sociedade americana com algumas grandes qualidades e princípios claros: um profundo amor à família, um relacionamento íntimo com Deus, como irmão ou como membro da família; com uma celebração da fé em chave festiva que se vive nas suas procissões, nos seus cantos, em todas as expressões humanas encontradas no contexto da fé; e, finalmente, uma profunda devoção à Bem-Aventurada Virgem Maria. De fato, Nossa Senhora de Guadalupe, como padroeira de toda a América, penetrou profundamente nestes últimos 30 anos na cultura branca americana. [...] Acredito que um dos princípios fundamentais para quem vem aos Estados Unidos para servir no ministério hispânico é a predisposição para entender a cultura para a qual está vindo. [...] Se há uma coisa muito importante que deve ser trazida à mente dos cidadãos desta nação, é que os imigrantes vieram para enriquecer a cultura, não para destruí-la. Além disso, temos um denominador comum que é que somos cristãos. Os imigrantes não trazem uma mudança total de valores ou religião, mas um complemento de diferentes povos e nacionalidades que acreditam no mesmo Jesus Cristo”.
O bispo já proferiu um discurso no Capitólio, onde, ele disse que acolher refugiados e imigrantes era mais importante do que nunca, e como chefe do Comitê para Imigrantes e Refugiados da USCCB, falou de compaixão e solidariedade. Questionado sobre o que seria necessário mudar na sociedade estadunidense para que essa compaixão e solidariedade sejam praticadas, o bispo respondeu que: “[...] Muitas vezes encontramos ideias falsas sobre imigrantes, estimuladas por uma retórica que não tem compreensão da verdade. O encontro humano muitas vezes elimina as barreiras impostas pela ignorância. Acho que a rejeição é, acima de tudo, medo. Até porque quando você não fala uma língua você se sente excluído, e ninguém gosta de se sentir excluído. [...] Acredito que o primeiro passo seria possibilitar a obtenção da cidadania por parte do programa DACA. Isso fará bem às mentes dos americanos, que podem ser céticos quanto à presença de pessoas que entraram ilegalmente em seu país”.
Outra questão ao bispo se trata do que o catolicismo hispânico poderia contribuir ao catolicismo americano, e se existe uma “nova espiritualidade americana” se formando à medida que as duas comunidades se aproximam, ou se, pelo contrário, essas comunidades não estão se aproximando e a igreja americana é culturalmente uma formadora de “guetos”? Dom Donsorville respondeu: “[...] uma coisa é muito clara, que talvez alguns não vejam, e é que o próprio futuro dos Estados Unidos, não mais da Igreja Católica, mas do próprio país, e que não pode ser branco. Vai ser uma cultura que abraça muitas outras culturas. Vai ficar marrom. Não mais branco, mas marrom. Isso é claro e, nesse sentido, houve um grande progresso. Existem algumas dioceses no sul e sudeste do país que já não ordenam sacerdotes que não têm a capacidade de celebrar os sacramentos em espanhol. É um requisito sem o qual nenhuma missão é concebível, porque as igrejas estão cheias de hispânicos”.
Para acompanhar a entrevista completa, acesse:
aleteia.org