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Estudo inédito mostra que o furacão Harvey atingiu os latinos de forma desigual

Editores | 03/09/2022 17:17 | CULTURA E SOCIEDADE
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Em nova pesquisa divulgada no dia 25 de agosto na revista Nature Communications, onde foram combinadas a atribuição de eventos climáticos extremos (às mudanças climáticas) com a pesquisa social quantitativa espacial, os cientistas mostraram não apenas que as mudanças climáticas aumentaram muito as inundações causada pelo furacão Harvey em 2017, mas que também as comunidades latinas de baixa renda foram as mais atingidas.

Segundo a introdução da pesquisa, a análise foi “baseada em um censo de aproximadamente 1,1 milhão de lotes residenciais localizados em 795 setores censitários (ou seja, bairros) no condado de Harris, Texas – o maior condado da área metropolitana de Houston que estava entre as áreas mais atingidas pelo furacão Harvey”.

“Gradualmente, os pesquisadores começaram a usar modelos para dois sistemas climáticos separados: um com aquecimento global induzido pelo homem e outro sem. Ao comparar eventos climáticos extremos em dois mundos diferentes, os cientistas agora podem dizer como as mudanças climáticas influenciaram a probabilidade ou a gravidade de ondas de calor, secas, inundações e furacões em particular. Mas só recentemente os cientistas começaram a rastrear as impressões digitais das mudanças climáticas sobre os impactos de determinados eventos ao quantificar o número de casas inundadas pelas mudanças climáticas, por exemplo, ou bilhões de dólares em danos causados, segundo o The Washington Post.

De acordo com a pesquisa divulgada, os cientistas estimaram que o aquecimento global foi responsável por cerca de 20% das chuvas durante a furação Harvey; podendo chegar a 38%. Quando esses números foram conectados a um modelo de inundação, descobriram que as mudanças climáticas aumentaram a profundidade da inundação entre 8 e 10 polegadas (entre 20 e 25 centímetros). Para algo entre 32% e 50% das moradias, aqueles 20 a 25 centímetros foram a diferença entre ter a casa inundada ou não.

“A primeira grande descoberta é que a mudança climática pode servir como o ponto de inflexão entre inundações e não inundações. Esses poucos centímetros a mais podem significar a diferença entre ter um gramado muito encharcado e ter alguns centímetros de água em sua casa – o que pode significar milhares de dólares em danos”, disse Kevin Smiley, professor de sociologia da Louisiana State University e principal autor do artigo para o The Post.

Diferentes grupos sociais e étnicos foram analisados pelos pesquisadores para medir como foram afetados pelas inundações. De acordo com o estudo, bairros com mais moradores latinos são os que possuem maior correlação entre mudanças climáticas e inundações. Por exemplo, as famílias latinas representam apenas 36% das propriedades em Houston que não inundaram durante o furacão. Eles também responderam por 48% das propriedades que inundaram devido às mudanças climáticas, e 50% das propriedades que teriam inundado de qualquer maneira.

Na descrição da pesquisa, consta que “Em primeiro lugar, os lotes em bairros com mais moradores latinos tiveram maiores impactos atribuídos às mudanças climáticas. [...] multiplicamos o número de parcelas em três categorias (ou seja, não inundadas, inundadas por causa das mudanças climáticas, inundadas mesmo sem as mudanças climáticas) pela proporção de diferentes grupos raciais em cada bairro para fornecer um esquema para ilustrar as disparidades raciais nas profundidades das inundações [...]. Em segundo lugar, parcelas em bairros com renda mais alta tiveram impactos mais altos atribuídos às mudanças climáticas. Terceiro, em bairros com mais moradores latinos, o impacto da renda é revertido. Nesses bairros, observou-se maior impacto nos bairros de menor renda. Essa descoberta esclarece as duas anteriores: enquanto maiores rendas de bairros estão ligadas a mais impactos induzidos pelas mudanças climáticas, o oposto é o caso dos bairros de latinos”.

Os pesquisadores não tentaram identificar as causas precisas da disparidade encontrada nessas condições, mas os defensores da justiça ambiental argumentam que a drenagem deficiente e a infraestrutura desatualizada podem aumentar os danos das inundações em bairros de baixa renda.

“De acordo com Smiley, essa é uma demonstração clara de como as mudanças climáticas estão exacerbando as desigualdades existentes. Smiley e um de seus coautores, Michael Wehner, cientista sênior do Laboratório Nacional Lawrence Berkeley, em Berkeley, Califórnia, dizem que esperam que o estudo informe o público e estimule lugares como o condado de Harris – que abrange Houston — a abordar as desigualdades socioeconômicas subjacentes”, segundo o The Post.

Os cientistas citados, ainda de acordo com o The Post, também “observam que estudos semelhantes podem ser usados para demanda judiciais – um dos objetivos originais do que é conhecido como ciência de atribuição. Agora que os cientistas podem rastrear danos específicos às mudanças climáticas, pode ser possível algum dia processar empresas de combustíveis fósseis por ajudar a expelir gases de efeito estufa na atmosfera. Até agora, processos semelhantes não chegaram longe no contexto dos EUA. Mas com as Nações Unidas se concentrando mais na ideia de “perdas e danos” para desastres relacionados ao clima, essa pesquisa pode se tornar cada vez mais útil”.

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