Verificou-se nos primeiros meses de 2020 nos Estados Unidos uma tendência crescente de demissões voluntárias em massa, o que acarretou, em abril do mesmo ano, no recorde do número de pedidos de demissões de trabalhadores. Chamada como “a Grande Renúncia”, ou “Big Quit”, este rearranjo no mercado de trabalho estadunidense afetou uma parcela considerável de pessoas saindo de seus empregos por motivos diversos, o que gerou inúmeros debates e reflexões.
Segundo publicação da
BBC Brasil, “naquele mês, quase 4 milhões de trabalhadores, o equivalente a 2,7% de toda a força de trabalho do país, deixaram seus empregos. É um recorde desde 2000, quando esse dado começou a ser registrado”. No entanto, essa “onda de demissões compõe um quadro ambíguo: ela ocorre no mesmo país em que há mais de 9,3 milhões de desempregados, segundo dados de maio do Departamento do Trabalho”.
Analistas apontam diversos fatores que poderiam explicar o fato de milhões de pessoas estarem se demitindo no país, desde o fenômeno do esgotamento de trabalho, potencializado pela pandemia de Covid-19, até às novas adaptações no ambiente dos trabalhadores com o advento em massa do “home office”. O fato é que tem se notado uma alta rotatividade em cargos, principalmente naqueles de baixa remuneração, nos quais as pessoas não conseguem satisfação ou progressão na carreira.
No final de 2021, uma publicação que cita o relatório da “
UCLA’s Latino Policy & Politics Initiative”, apontou que o número de pedidos de demissão entre as mulheres latinas foram mais altas do que qualquer outro grupo demográfico:
“Entre março de 2020 e março de 2021, o número de latinas na força de trabalho caiu 2,74%, o que significa que há 336.000 latinas a menos no mercado de trabalho. (...) essas mulheres atribuem principalmente suas saídas às necessidades familiares e à falta de apoio aos cuidados infantis. No entanto, a razão para essas demissões é, sem dúvida, agravada para comunidades marginalizadas de maneiras que as estatísticas ainda não mostraram completamente”.
O conceito de “trabalho duro” está muito impregnado na cultura latina desde a mais tenra idade e foi assumindo diferentes significados com as novas gerações. Isso não diferiu entre as comunidades latinas nos Estados Unidos. Historicamente, para adquirirem o sustento em meio a uma situação econômica desigual, para a maioria dos latinos, o trabalho duro é a única forma concebida de sobrevivência para si e sua família. Assim, muitos deles não enxergavam meios para deixar seus empregos, ainda mais frente à real possibilidade de serem alvo de críticas dentro de suas próprias comunidades.
Essa realidade tem se mostrado diferente em meio às análises acerca do tema da “Grande Renúncia”, no que diz respeito à força de trabalho das mulheres latinas. Ainda segundo a publicação, “para algumas latinas, a miragem do sonho americano desapareceu em meio à pandemia de Covid-19, e muitas optaram por se desfazer dos padrões culturais, sociais e profissionais impostos às comunidades de primeira e segunda geração. Observar os anciãos, ou seja, as matriarcas da família, trabalhando incansavelmente dentro e fora de casa para sustentar parentes nos EUA, muitas vezes sacrificando suas próprias necessidades para garantir que seus entes queridos tenham uma vida melhor, ofereceu uma visão sóbria desse sonho intangível que poucos de nós realmente alcançamos. Após testemunhar em primeira mão o custo emocional, mental e físico desse investimento, as latinas estão cada vez mais abandonando os modelos tradicionais de trabalho em favor da paz de espírito, equilíbrio entre vida profissional e pessoal, saúde geral e, sim, família”.