Uma investigação da ProPublica revela como uma empresa começou como uma prestadora de serviços logísticos para festivais de música e se transformou em uma peça central da infraestrutura de detenção de imigrantes nos Estados Unidos. Em 2005, com um encontro informal entre os fundadores da empresa Deployed Resources e um ex-funcionário da Agência Federal de Gestão de Emergências (FEMA), marcou o início de sua conexão com o governo federal. Ao longo dos anos, a Deployed se adaptou às mudanças nas políticas migratórias, beneficiando-se especialmente durante os governos de Donald Trump, quando recebeu contratos bilionários para montar e operar instalações temporárias na fronteira, segundo a publicação.
Com a intensificação das políticas de deportação no segundo mandato de Trump, a empresa passou a direcionar seus serviços não apenas para abrigar imigrantes recém-chegados, mas também para deter pessoas que estão prestes a ser deportadas. Essa mudança envolve a adaptação de suas tendas temporárias para uso prolongado por imigrantes detidos, o que levanta preocupações sobre a segurança, as condições de vida e o respeito aos direitos humanos nessas estruturas improvisadas. Ex-funcionários e especialistas alertam que essa nova função exige um nível de sofisticação que vai além do que as tendas podem oferecer, e destacam o alto custo envolvido na operação.
Além disso, o texto revela as estratégias da Deployed para se manter relevante e lucrativa no setor, como a contratação de ex-funcionários de alto escalão do Departamento de Segurança Interna (DHS) e do Serviço de Imigração e Alfândega (ICE), o que fortaleceu seus laços com o governo e ajudou a garantir novos contratos. Apesar de críticas de órgãos de fiscalização sobre o desperdício de recursos públicos e denúncias de má gestão em unidades de acolhimento, a empresa continuou a obter contratos cada vez maiores, incluindo um recente no valor de até US$ 3,8 bilhões para operar um campo de detenção militar em Fort Bliss, no Texas.
A publicação aponta ainda o papel de outras empresas privadas do setor prisional, como o GEO Group e a CoreCivic, que veem nas políticas migratórias de Trump uma oportunidade de expansão. Apesar de abordagens distintas em relação ao lobby político, todas compartilham a estratégia de incorporar ex-funcionários públicos para ganhar influência.
A atual política migratória dos EUA tem
impulsionado a criação de uma verdadeira indústria da detenção, em que empresas
privadas como a Deployed Resources lucram
com a crescente criminalização da imigração, muitas vezes à custa dos direitos
e da dignidade dos migrantes.