O governo Trump deu início a uma nova fase na sua política migratória ao processar criminalmente, pela primeira vez, migrantes acusados de violar uma zona militar recentemente expandida na fronteira sul dos Estados Unidos. Pelo menos 28 pessoas foram formalmente acusadas de invadir a chamada “Área de Defesa Nacional”, uma faixa de 18 metros de extensão no extremo sul do Novo México, que passou a ser tratada como parte de uma instalação militar americana. Segundo o Washington Post, além da acusação habitual de entrada ilegal no país, os migrantes agora enfrentam uma nova acusação por violar normas de segurança militar, o que pode dobrar as penas: até um ano de prisão e multas de até US$ 100 mil, em contraste com os seis meses e US$ 5 mil previstos para a entrada ilegal.
A iniciativa ocorre em meio ao reforço da presença militar na fronteira, com milhares de soldados e veículos blindados enviados sob a justificativa de controlar travessias irregulares e o tráfico de drogas, apesar de a maior parte dessas substâncias entrar por portos legais. O secretário de Defesa, Pete Hegseth, esteve na região e alertou que os migrantes que cruzarem a área militarizada enfrentarão múltiplas acusações, podendo acumular penas de até 10 anos de prisão. Segundo ele, cartazes em inglês e espanhol foram instalados para advertir sobre os riscos de atravessar a zona restrita.
A medida provocou críticas de organizações de direitos civis. A União Americana pelas Liberdades Civis do Novo México classificou a militarização da fronteira como uma ameaça ao princípio constitucional que proíbe o uso das Forças Armadas na aplicação da lei civil. A advogada Rebecca Sheff alertou que a expansão do papel militar cria um ambiente hostil para comunidades locais, comparando a estratégia ao controverso programa de segurança fronteiriça do Texas, ainda segundo a reportagem.
Advogados de defesa pública também questionaram as novas acusações, afirmando que elas apenas aumentam a pressão sobre migrantes já vulneráveis, sem impacto real na prevenção de travessias.
A ofensiva na fronteira é parte do plano do presidente Trump de promover deportações em massa, prometendo remover ao menos um milhão de imigrantes no primeiro ano de seu novo mandato. Especialistas, no entanto, avaliam que a meta dificilmente será alcançada, em um contexto de queda no número de apreensões na fronteira desde a posse de Trump. A militarização da fronteira também gerou preocupações sobre a segurança das tropas, após a morte de dois soldados em um acidente recente no Novo México durante uma missão de reconhecimento.
Enquanto
isso, Trump amplia sua estratégia com o envio de mais recursos militares e a
possibilidade de expandir centros de detenção, inclusive na base de Guantánamo,
em Cuba. A intensificação das ações, embora popular entre parte de sua base
política, tem acirrado o debate sobre os limites entre segurança nacional e
direitos civis nos Estados Unidos.