O governo Trump intensificou sua política de repressão a imigrantes, com um foco preocupante em crianças que chegam sozinhas aos Estados Unidos. De acordo com documentos internos do ICE (Serviço de Imigração e Alfândega) e relatos de defensores de direitos imigratórios, as autoridades vêm realizando visitas domiciliares, chamadas oficialmente de "verificações de bem-estar", com o objetivo não apenas de garantir a segurança dessas crianças, mas também de coletar informações para processos de deportação ou até mesmo ações criminais contra os próprios menores ou seus patrocinadores legais.
Segundo o The Guardian, embora o Departamento de Segurança Interna (DHS) afirme que as visitas têm caráter protetivo, um documento do ICE revela uma intenção mais ampla de fiscalização, incluindo a busca por indícios de ligação das crianças ou de seus cuidadores com atividades criminosas ou redes de tráfico. Críticos alertam que essas ações representam uma "separação familiar secreta", por criminalizar as famílias que acolhem os menores e criar um clima de medo entre comunidades imigrantes.
A política tem sido acompanhada por outras medidas restritivas, como o corte de serviços jurídicos para menores desacompanhados e o restabelecimento do compartilhamento de dados confidenciais entre o Escritório de Reassentamento de Refugiados (ORR) e o ICE. Sob o novo mandato de Trump, a ORR passou a informar à agência de imigração sobre o status legal dos patrocinadores, potencialmente abrindo caminho para sua detenção e deportação.
Casos recentes, como o de uma adolescente de 16 anos visitada por agentes federais no estado de Washington, ilustram o impacto emocional dessas operações. Organizações de apoio relataram o pânico e o trauma enfrentados por crianças abordadas sem aviso, temendo perder seu lar ou ver seus responsáveis detidos.
Especialistas jurídicos e defensores de direitos humanos afirmam que, embora existam casos de exploração ou tráfico de menores, estes são exceções, não a regra. A maioria das crianças vive com parentes ou cuidadores responsáveis. Ainda assim, o governo Trump reforça a narrativa de que há um risco generalizado de tráfico, justificando uma abordagem mais punitiva e militarizada da imigração infantil, segundo a publicação.
A nomeação de Angie Salazar, ex-agente do ICE, como diretora interina da ORR, simboliza o entrelaçamento cada vez maior entre políticas de assistência social e de fiscalização migratória. Para críticos, essa fusão ameaça os direitos fundamentais das crianças migrantes e transforma o processo de acolhimento em mais uma ferramenta de controle imigratório.
Em
meio a essas mudanças, cresce o temor de que as novas medidas aprofundem o
trauma e a insegurança vividos por milhares de crianças e suas famílias, em um
cenário de endurecimento das políticas migratórias e erosão das proteções
humanitárias nos Estados Unidos.