A comunidade latina, dentre outros grupos étnicos, foi considerada a que mais sofreu com os efeitos da pandemia, já que é a maioria dos trabalhadores dessa população está alocada em serviços essenciais. Muitos desses trabalhadores, além de não possuírem acesso ao seguro-saúde, não conseguem deixar seus empregos pela falta de outras oportunidades de trabalho.
Elisabeth Román, presidente do “National Catholic Council for Hispanic Ministry” dos Estados Unidos (Conselho Nacional Católico do Ministério Hispânico) presidirá o próximo Congresso “Raíces y Alas” (Raízes e Asas) do Ministério Hispânico, a ser realizado em Washington, DC, de 26 a 30 de abril. Na entrevista concedida ao site
“Aleteia”, ela chama atenção para a omissão das Igrejas e líderes pastorais no amparo à comunidade latina no contexto de pandemia.
Na entrevista, Elisabeth Román compartilha com Aleteia os postos-chave do Congresso em relação ao ministério hispânico no país. Segundo a publicação, Román observou que “os hispânicos são o presente e a esperança para o futuro da Igreja americana. É hora de sua voz ser ouvida, uma voz que eles sentem que foi, se não silenciada, ao menos, não foi levada a sério o suficiente por muito tempo”.
Questionada como a pandemia nos Estados Unidos afetou o ministério pastoral hispânico e como esses ministérios podem encontrar nova formas de acolhimento dessa comunidade, Elisabeth Román respondeu: [...] muitos presbíteros desapareceram. Eles não apenas fecharam as portas: desapareceram da comunidade. A questão é que as pessoas que mais sofreram eram as pessoas de cor. Isso por vários motivos: por causa dos bairros em que moram, porque não tinham condições de ficar em casa e não trabalhar, ou porque eram trabalhadores essenciais. Quem processava e transportava os alimentos? Quem eram os cozinheiros dos restaurantes? Quem estava nas fazendas, nos supermercados? Quem sustentou o país? E tudo isso, sem seguro de saúde ou condições sanitárias suficientes. Tanto os presbíteros como os fiéis desapareceram. Mais uma vez, é compreensível: todos estavam com medo. Estávamos diante de algo novo. Mas agora como eles esperam que as pessoas voltem para as paróquias, se a primeira coisa que eles dizem é ‘precisamos do seu dinheiro?’ Agora eles esperam doações porque, é verdade, a renda caiu muito, mas onde estavam esses ministérios pastorais quando realmente precisávamos deles? [...]”.
Sobre o pedido aos parlamentares para que resolvam a situação dos beneficiários do DACA de maneira simbólica no Congresso “Raíces y Alas”, Román notou que “há pessoas de cor na equipe do governo, mas as pessoas que vão ao Capitólio para apresentar demandas são todas brancas” [...] Não estamos exigindo nada, mas 90% das decisões que o Congresso toma são baseadas em pedidos diretos do povo. [...] Este é um ano eleitoral e precisamos ser ouvidos”.
Outra questão foi apresentada na entrevista com Román: “Muitas pessoas acreditam que a comunidade católica hispânica está crescendo apenas por causa da imigração. Mas, na realidade, os hispânicos estão presentes no que hoje é o território dos EUA desde muito antes da chegada do Mayflower. Grande parte da geografia deste país tem nomes espanhóis, mas a comunidade não latina não está ciente disso. Perceber que o latino não é um intruso aqui é empoderador. Isso está presente no Congresso de alguma forma, quando falamos de Raíces?”
Román respondeu que “[...] parte do problema é que somos censurados quando falamos espanhol, que é a primeira língua europeia falada neste país, muito antes do inglês! [...] A mensagem que recebemos sempre foi assistencialista (‘Ah, vamos te ajudar’), mas agora não é mais assim. Não somos mais apenas imigrantes. De fato, o número de imigrantes latinos nos EUA diminuiu: a comunidade cresceu principalmente por meio de nascimentos”.
Ao responder à pergunta sobre o porquê a igreja em geral, os ministérios e os líderes são tão tímidos quando se trata de justiça social, apesar de seu valor bíblico, Román respondeu que “a justiça é central para o Evangelho. Jesus exige que alimentemos os famintos, vistamos os nus e visitemos os presos, mas muitas vezes é a última coisa que fazemos. Acredito que, nesse sentido, perdemos o contato, perdemos o encontro com os outros. [...] Os hispânicos são ‘pró-vida’, mas ‘pró-todas as vidas’. Você tem que defender o bebê que uma menina está carregando em seu ventre, mas você faz pouco se não ajudar a mãe também. Não é uma questão de democratas ou republicanos: é uma questão de justiça social.
A entrevista completa está no site mencionado.