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Documentário resgata o legado de grupo de arte chicano dos anos 1970 que desafiou o mainstream e fez história nos EUA

Editores | 07/04/2025 23:04 | CULTURA E SOCIEDADE
IMG Foto: Harry Gamboa Jr./Cortesia Asa Nisi Masa Films

O documentário ASCO: Without Permission, dirigido por Travis Gutiérrez Senger, resgata a trajetória e o legado do coletivo artístico chicano ASCO, formado nos anos 1970 por Patssi Valdez, Willie Herrón III, Gronk e Harry Gamboa Jr. Segundo a Associated Press, mais do que um grupo de arte, a ASCO representou um movimento de resistência cultural e política, especialmente relevante para a comunidade mexicano-americana do leste de Los Angeles. O nome do coletivo, que significa "náusea" ou "desgosto" em espanhol, foi uma resposta provocativa ao preconceito enfrentado pelos chicanos, inclusive dentro do próprio mundo artístico.


Impedidos de exibir suas obras em museus e galerias tradicionais, os integrantes da ASCO criaram suas próprias oportunidades, recorrendo à arte performática, aos murais urbanos e a intervenções públicas para expressar críticas à brutalidade policial, ao racismo sistêmico e à marginalização cultural. Uma de suas ações mais simbólicas foi o grafite nos muros do LACMA, em protesto à exclusão da arte chicana das instituições formais. Com o tempo, os membros do grupo se tornaram importantes nomes da arte nos EUA, embora tenham demorado a ser reconhecidos oficialmente — apenas em 2011, o LACMA organizou uma retrospectiva do grupo.


A presença de Patssi Valdez, única mulher do grupo, ganha atenção especial no documentário, após anos de invisibilização dentro das narrativas sobre a ASCO, ainda segundo a publicação. Ela relembra como enfrentava tanto o racismo quanto o machismo — inclusive dentro de sua própria comunidade —, e como sua arte performática foi uma forma de resistência a essas pressões. Um exemplo marcante é a performance “Instant Mural”, em que ela se prende com fita adesiva a uma parede, simbolizando a censura imposta às mulheres.


A influência da cultura pop e do cinema de Hollywood é outro elemento presente no trabalho do coletivo, ainda que de maneira crítica. A série “No Movies” satirizava a ausência de representatividade latina na indústria cinematográfica, recriando cenas fictícias com estética de filmes, mas com protagonismo chicano. Esse espírito irreverente e contestador inspirou o documentário de Senger, que também homenageia a ASCO ao incluir jovens artistas latinos em curtas-metragens no estilo DIY (“faça você mesmo”).


Produzido por Gael García Bernal e Diego Luna, o filme ainda busca distribuição, mas já tem impacto entre novas gerações de artistas latinos. Com depoimentos de nomes como Michael Peña e Arturo Castro, ASCO: Without Permission ressalta a importância de contar histórias latino-americanas que foram historicamente ignoradas. Para os membros da ASCO, a arte foi, e continua sendo, um instrumento de afirmação, resistência e liberdade — uma forma de dizer que não é preciso pedir permissão para existir, criar ou se manifestar.

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