Nos Estados Unidos, devido a um “encolhimento” do mercado de trabalho nos últimos anos, em parte devido à pandemia de Covid-19, os considerados “bons empregos” se tornaram disponíveis para aqueles trabalhadores sem formação universitária.
Em março deste ano, o governador de Maryland, Larry Hogan (R), anunciou que diplomas universitários não seriam mais exigidos para muitos empregos estaduais. A decisão gerou algumas controvérsias, pois, apesar de ser bem recebida por alguns como uma maneira sensata de lidar com a escassez de mão de obra e oferecer maiores oportunidades para trabalhadores menos qualificados, outros demonstraram preocupação com a redução dos padrões de qualidade do ensino superior.
Segundo publicação do anúncio pelo
The Washington Post, a iniciativa, apontada por Hogan como a primeira desse tipo no país, “disponibilizou imediatamente centenas de vagas de trabalho para pessoas que não possuem graduação de quatro anos, mas que têm outra experiência ou formação”.
Um mês após o anúncio, o governador do Colorado, Jared Polis (D), também orientou as agências governamentais em seu estado a adotar a contratação de trabalhadores por habilidades, não por diplomas. Os empregadores do setor privado também estão revertendo os mesmos requisitos.
Embora a escassez de mão de obra em alguns setores na economia estadunidense tenha permitido que empregadores considerassem contratações com base na experiência ou habilidade dos candidatos, segundo publicação recente do
The Post, “os defensores da força de trabalho vêm resistindo há anos com algum sucesso contra a chamada inflação de diplomas desencadeada pela Grande Recessão. Quando a economia despencou em 2008 e milhões de trabalhadores demitidos começaram a competir por empregos escassos, os empregadores ficaram mais exigentes sobre quem eles contratavam e cada vez mais adicionaram requisitos de graduação de quatro anos a alguns empregos de ‘qualificações intermediárias’ que eram frequentemente preenchidos por trabalhadores sem graduação”.
Essa crescente disponibilidade de bons empregos para aqueles sem diploma universitário traz outra questão importante: os desafios do ensino superior tradicional. Durante a pandemia houve um declínio vertiginoso das matrículas nas universidades, esvaziando um milhão de vagas em cursos de dois a quatro anos de duração.
A falta de um curso superior há décadas exclui os trabalhadores de suas profissões desejadas e do acúmulo de riqueza que vem com eles: “62% dos americanos com mais de 25 anos não têm diploma de bacharel, e esse número sobe para 72% para adultos negros e 79% para adultos latinos. Qualquer mudança na força de trabalho em benefício dos trabalhadores sem diplomas traz implicações óbvias para a mobilidade econômica e a equidade”, de acordo com o The Post.
Alguns analistas da força de trabalho veem motivos para acreditar que os empregadores manterão a oportunidade aberta para trabalhadores sem diplomas, mesmo que a economia envie mais graduados universitários para eles, observa a publicação.
“Empresas como Google, IBM e Accenture também fizeram movimentos de alto nível para aumentar a contratação baseada em habilidades. [...] Em janeiro, o Federal Reserve Bank da Filadélfia examinou um subconjunto de empregos de qualificação média e descobriu que a proporção de listas de empregos pedindo um diploma universitário caiu 4% entre o primeiro trimestre de 2020 e o segundo trimestre de 2021. [...] isso significa mais 700.000 dos chamados “empregos de oportunidade” – cargos abertos para aqueles sem diploma que pagam mais do que a média anual dos EUA de US$ 36.660”.
Joseph Fuller, professor de administração da Harvard Business School disse ao The Post não acreditar que a maioria dos empregadores volte a exigir o diploma universitário nesses tipos de emprego, mesmo se os candidatos mais qualificados voltarem a pleitear vagas. No entanto, os trabalhadores ainda precisarão de alguma maneira alternativa de desenvolver as habilidades necessárias para continuarem ser contratados.
“Um diploma de bacharel ainda tem prestígio como ingresso na classe média, mas seu valor tem recebido cada vez mais escrutínio. Nos últimos anos, o aumento das mensalidades e dívidas de empréstimos estudantis levaram mais americanos a reconsiderar um investimento em educação pós-secundária. Quando a Gallup perguntou aos americanos em 2019 sobre a importância dos diplomas universitários, apenas 51% responderam ‘muito importante’, abaixo dos 70% em 2013”, segundo a publicação.